Título: Governo precisa parar de trocar apoio por cargos, critica Suplicy
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Nacional, p. A6

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) diz que apoiou a CPI dos Correios movido pela idéia de que o governo Lula precisa abandonar o velho método de trocar apoio por cargos e verbas. "Posso entender que no Congresso haja deputados que reivindiquem verbas e cargos, mas não acho isso saudável", diz. "Quero que o governo aja diferente." Eis a entrevista: O senhor disse que assinou a CPI dos Correios porque descobriu como funciona o toma-lá, dá-cá no governo Lula. É possível acabar com isso?

Em quase 16 anos de mandato parlamentar, aprendi que é possível votar sem receber cargos e verbas federais em troca. Eu tomo as decisões pelas minhas convicções políticas. Não acho impossível resistir às pressões dos parlamentares. O governo poderia reverter esse quadro. Posso compreender que haja deputados que tomem suas decisões reivindicando liberação de verbas e cargos, mas não acho isso saudável.

Como foi o relato do senador Ney Suassuna sobre a distribuição de verbas e cargos no governo Lula?

Ele me contou como eram as solicitações de senadores para obter cargos e verbas e como o governo demorava para atender aos pedidos. Éramos um grupo com vários senadores. Ficamos impressionados com o relato. Isso pesou na minha decisão.

O senhor combinou assinar a CPI junto com outros cinco colegas às 23h30 de quarta-feira. Por que o senhor anunciou que assinaria antes?

Há dez dias, venho recebendo mensagens de protesto contra a decisão do governo de não apoiar a CPI. Depois da reunião da bancada do PT no Senado, em que ficou decidido não assinar o requerimento de CPI, comecei a ver, na internet, mensagens me destruindo. Às 17h30, Paim veio falar comigo muito angustiado e decidimos assinar o requerimento. Avisamos ao Mercadante (líder do governo no Senado) e ao Delcídio Amaral (líder do PT) que havíamos tomado aquela decisão. Eles pediram para que assinássemos no momento em que se confirmasse que a abertura da CPI era irreversível.

Foram esses parlamentares que pediram para assinar somente às 23h30?

Foram. Mas, lá pelas 7 horas da noite, soube que muita gente prometia retirar seus nomes do pedido de instalação. Pedro Simon (PMDB-RS) discursava e fez um apelo para que o PT não se transformasse num PMDB. Estavam a meu lado Cristovam e Paim. Falei para os dois: vou assinar o requerimento. Pela primeira vez, em 25 anos de história do PT, não segui uma posição majoritária.

Por que não aceitar que a Polícia Federal, o Ministério Público e a Controladoria Geral da União façam as investigações?

Há parlamentares envolvidos. Faz parte da história do PT apoiar CPIs. Na segunda-feira, quando falava para 450 pessoas no Colégio Paulista, lembrei o quanto foi o importante para o PT apoiar a CPI do Collor.

A história pode se repetir no governo Lula?

Eu tenho certeza que não. O presidente Lula é um homem ético e que sempre combateu a corrupção. Penso que, neste caso, temos o dever de apoiar a CPI dos Correios. A CPI se justifica no momento em que há suspeitas de que partidos podem estar fazendo caixa com dinheiro de estatais.