Título: No Japão, Lula é informado da derrota
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Nacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou-se ontem a comentar a criação da CPI dos Correios. "Não pode (fazer a pergunta). Não pode, porque eu vou falar com vocês quando eu terminar a minha visita ao Japão. Primeiro, deixa eu terminar meu trabalho de japonês", disse ele, ao cumprimentar os jornalistas que o aguardavam no salão de entrada do gabinete do primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi. A imprensa ainda insistiu, alegando que o tamanho da crise justificaria antecipar uma declaração. Lula, porém, manteve-se irredutível. Segundo o vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), o presidente foi informado sobre o andamento da operação para barrar a CPI dos Correios antes de embarcar de Seul para Tóquio, às 8h30 de quinta-feira (20h30 de quarta-feira, em Brasília). Ele conversou por telefone com o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo.

Durante o vôo, nem mesmo os ministros que integravam sua comitiva entraram na cabine presidencial do Aerolula, relatou o deputado João Caldas (PL-AL). Quando o avião aterrissou na capital japonesa, o governo já havia sido derrotado. O presidente foi informado pelos ministros do resultado quando já estava instalado no hotel Imperial.

Antes da audiência com Koizumi, Lula visitou o parlamento japonês e desdobrou-se em elogios. Chamou os senadores e deputados de "companheiros". "Sinto-me, aqui, entre companheiros. Minha experiência parlamentar ensinou-me o papel decisivo do Poder Legislativo na concretização de nossas aspirações e sonhos", afirmou, ao discursar no plenário do Parlamento do Japão. "Aprendi que é no contato pessoal, na conversa franca, olhando olho no olho, que temos condições de superar diferenças e preconceitos. Aqui, no Parlamento, construímos consensos, damos forma e expressão à vontade coletiva".

Em um esforço para agradar aos parlamentares japoneses, o presidente Lula lembrou que foi deputado constituinte, eleito em 1986. Em sua carreira política, entretanto, ele nunca omitiu que não se adaptou a essa experiência e que considerava mais produtivo e benéfico que os parlamentares trabalhassem junto a suas bases em vez de mergulhar em discussões no Congresso.

No discurso no Parlamento, Lula informou que o Brasil está voltando a crescer. "Estamos reencontrando o caminho do desenvolvimento, de forma sustentável e com justiça social", disse. O presidente citou como exemplos desses avanços o Fome Zero, que atende a 8 milhões de famílias, segundo informou, e a criação de quase 3 milhões de empregos formais desde o início do governo.

"No caso do Brasil, como no do Japão, as transformações estruturais corajosamente aprovadas pelos parlamentos de nossos países foram determinantes para esses avanços", discursou. "Apenas as reformas emanadas em um ambiente democrático, de livre discussão, são verdadeiramente duradouras." Lula ainda homenageou em seu discurso o deputado Paulo Kobayashi (PSDB-SP), de origem japonesa, recentemente falecido.