Título: CPI apelará à polícia para ouvir suspeitos
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Nacional, p. A10

A Comissão Parlamentar de Inquérito da Terra ameaça recorrer à polícia para garantir o depoimento de três dirigentes e três funcionários de entidades ligadas ao MST suspeitos de uso irregular de verbas da reforma agrária. O grupo, que faltou à audiência terça-feira, foi chamado para prestar depoimento na próxima quarta. "Convocamos os representantes mais uma vez. Se não aparecerem, teremos de usar a força policial", afirmou o presidente da CPI, senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Depois de quebrar o sigilo fiscal e bancário, a CPI detectou uma série de indícios de fraudes nas contas da Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca) e da Confederação das Cooperativas da Reforma Agrária (Concrab), duas entidades que atuam em sintonia com o MST.

Entre 2001 e 2004, Anca e Concrab teriam recebido R$ 10 milhões de repasses federais para serem usados em ações de reforma agrária.

Documentos obtidos pela CPI indicam que o secretário-executivo da Anca, José Trevisol, e a tesoureira, Selma Aparecida dos Santos, teriam usado R$ 400 mil da entidade para comprar dois planos de previdência privada.

A Concrab, por sua vez, é suspeita de fraudar a prestação de contas em convênios para educar assentados da reforma agrária. De acordo com documentos reunidos pela CPI, a verba declarada para pagamento de professores e prestadores de serviço teria sido desviada e depositada em contas de funcionários. O esquema explicaria como os empregados, três office-boys que recebem o equivalente a um salário mínimo, movimentaram cheques num total de R$ 2,11 milhões.

Os funcionários Emerson Rodrigues da Silva, Edmilson José de Pinho e Orlando Vieira de Araújo teriam recebido somente da Concrab cheques que totalizam R$ 704 mil. Segundo a CPI, o grupo teria recebido também cheques da Anca. Todos foram convocados para prestar depoimento à CPI.

Além de ouvir os acusados, integrantes da CPI ingressaram com pedido para quebrar sigilo fiscal e bancário dos três office-boys apontados como laranjas. Também foi requisitada a quebra do sigilo de Francisco dal Chiavon, presidente da Concrab, e da dirigente da Anca, Gislei Siqueira Knierin. Esta última já havia sido condenada pelo Ministério da Saúde a devolver R$ 19,5 mil desviados de um convênio de educação para a saúde. Integrantes da CPI também querem investigar as contas da Gráfica Editora Peres e da Sociedade Editorial Brasil de Fato, duas empresas encarregadas de fazer cartilhas para Anca e Concrab. A suspeita é de que as gráficas cobraram preços superfaturados pela edição das cartilhas.