Título: Chirac: voto "não"levará pane à UE
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Internacional, p. A11

Em seu terceiro e último pronunciamento à nação pela aprovação da Constituição da União Européia, o presidente Jacques Chirac tentou convencer os eleitores indecisos a votar "sim", advertindo os franceses sobre as graves conseqüências do "não" para a Europa e a própria França. A três dias do referendo, Chirac disse que a rejeição do texto constitucional poderá abrir um período de divisões e incertezas. Ressaltou ser uma grande ilusão imaginar a possibilidade de redação de uma outra Carta. "A Europa vai entrar em pane", advertiu Chirac em tom solene no Palácio do Eliseu. Segundo o presidente, a França ficaria mais fraca para defender seus interesses, como a Política Agrícola Comum (PAC).

Também a parceria franco-alemã, que tem funcionado como motor europeu, teria seu peso reduzido. Se o país votar "sim", será mais influente e poderá continuar sendo o motor da Europa, mantendo seu modelo social, disse Chirac.O serviço público francês será reconhecido em toda a Europa. Chirac, acusado de facilitar o ingresso da Turquia na UE, destacou que com a aprovação da Carta toda futura adesão, incluindo a turca, deverá ser aprovada em referendo para ser concretizada.

O discurso presidencial, coincidiu com a divulgação de duas novas pesquisas de opinião que confirmam a tendência de rejeição. Sondagem do Instituto Sofres revelou que 54% dos eleitores manifestam intenção de votar não, enquanto 46% votariam sim. Pesquisa do Ipsos mostra vantagem ainda maior do não: 55% a 45%.

A vitória do não já é admitida mesmo pelos mais fervorosos partidários do sim, que se mostram resignados. A pesquisa Sofres-Le Monde revelou ainda o perfil dos eleitores quanto ao voto: a classe média e os assalariados tendem a rejeitar a Constituição européia, enquanto as classes mais abastadas, os políticos e intelectuais tendem a votar sim.