Título: Lucro das elétricas é 142% maior
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Economia, p. B1

Número do primeiro trimestre reflete retomada do consumo e reajustes de tarifas, acima da inflação, autorizados pelo governo

ENERGIA Renée Pereira O lucro médio das empresas de energia elétrica no primeiro trimestre deste ano teve um crescimento real (descontada a inflação) de 142% comparado a igual período de 2004. A melhora dos resultados é decorrente especialmente da retomada do consumo e dos reajustes tarifários autorizados pelo governo, bem acima da inflação. Mas, segundo especialistas, as companhias também conseguiram mudar o perfil de endividamento, reduzindo a parcela em dólar e alongando vencimentos. Levantamento da consultoria Economática, com 30 empresas do setor negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), mostra que o lucro líquido médio subiu de R$ 681 milhões em 2004 para R$ 1,65 bilhão nos primeiros três meses deste ano. A receita líquida cresceu 10,7%, já descontada a inflação, e atingiu R$ 19,05 bilhões. Com isso, o lucro operacional, antes de juros e impostos, avançou 21,7%, de R$ 3,62 bilhões para R$ 4,41 bilhões.

Comparado com o conjunto das empresas de capital aberto no País, o ganho das elétricas no trimestre foi bem superior. Estudo preliminar feito pela Economática no início do mês mostrava que o lucro das companhias havia crescido, em média, 55%. Já os grandes ganhos dos quatro maiores bancos (Bradesco, Itaú, Unibanco e Banespa) evoluíram quase 50%.

A explicação para o salto do lucro médio das elétricas está na combinação do aumento do consumo com o reajuste das tarifas, afirma o analista do Banco Brascan, Carlos Martins. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o volume produzido subiu cerca de 7% entre janeiro e março. Apesar disso, algumas distribuidoras registraram queda de consumo por causa da saída de consumidores para o mercado livre. Esses grandes clientes, geralmente da indústria, optaram por contratos diretamente com as geradoras ou com outras concessionárias.

No caso das tarifas, o aumento médio foi de 18% no ano passado, saltando de R$ 167,15 para R$ 197,35 o megawatt/hora, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Enquanto isso, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo IBGE, teve variação de 7,6%.

O analista da agência de classificação de riscos Standard & Poor's, Marcelo Costa, completa ainda que o lucro das elétricas foi um resultado de vários fatores, entre eles a mudança no perfil de endividamento. Segundo a Economática, os débitos ficaram estáveis no período, em R$ 54,48 bilhões, com queda de apenas 0,8%. Mas houve o alongamento dos vencimentos e uma redução das dívidas em dólar. A relação entre lucro operacional e dívida, que mede a capacidade das empresas de honrar compromissos, melhorou. O índice, que era de 6,1% subiu para 8,1%. Esse índice significa que, para cada R$ 100 de dívida, as empresas conseguem gerar R$ 8,1 de lucro operacional, explica o presidente da Economática, Fernando Exel.