Título: Japoneses pedem regras sólidas
Autor: DeniseChrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Economia, p. B3

O presidente Lula voltou a ser cobrado por representantes de megacorporações empresariais quanto à preservação da estabilidade macroeconômica do Brasil, marcos regulatórios mais sólidos e segurança jurídica, referindo-se principalmente às Parcerias Público-Privadas (PPPs), que são o sustentáculo da realização de projetos de infra-estrutura. As observações foram feitas pelo governador do JBIC (Banco de Cooperação Internacional do Japão), Kyosuke Shinozawa, e pelo presidente do Mizuho Corporate Bank, Hiroshi Saito, durante o café da manhã de Lula com 17 empresários e representantes de instituições financeiras japonesas. Assim como fez em encontro similar na Coréia do Sul, o presidente ressaltou que o processo eleitoral no Brasil não interferirá nas decisão do governo de garantir o crescimento sustentável, relatou o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Afirmou, especificamente, que as turbulências de natureza política não alterarão os padrões definidos para a área econômica.

"Os empresários argumentaram que a estabilidade da economia e regras jurídicas mais claras são essenciais para o ingresso de investimentos japoneses de longo prazo no Brasil", relatou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, avaliaram o encontro como extremamente positivo e assimilaram tranqüilamente as observações do empresariado japonês. O vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), disse que a definição do marco regulatório será essencial para que as parceiras PPPs vigorem plenamente. Mas criticou a falta de humildade e a teimosia de "determinados setores do governo", em referência às restrições do Ministério da Fazenda à liberação de recursos para emendas dos parlamentares.

ETANOL E CHURRASCO

O ministro da Agricultura afirmou que se surpreendeu positivamente com a inclusão do etanol no comunicado final do encontro entre Lula e o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, na véspera. Na reunião com os empresários, Lula voltou a defender a tese de que seria adequado ao Japão a mudança de sua matriz energética, com a inclusão do álcool como aditivo à gasolina, o que permitirá o cumprimento das regras do Protocolo de Kyoto sobre a redução de emissão de poluentes.

A iniciativa, acrescentou, foi um sinal de que o projeto de investimentos japoneses na produção do etanol no Brasil e de embarques do produto brasileiro deverá ser efetivado. A Petrobrás deverá entrar no circuito da exportação do álcool.

Na reunião com o primeiro-ministro, ficou acertado o envio de uma missão econômica japonesa ao País ainda este ano. Falou-se, também, da possibilidade de o JBIC financiar obras de infra-estrutura na América do Sul e do interesse de empresas japonesas em participar das PPPs.

Na área de alimentos, onde se esperavam avanços depois da liberação das mangas brasileiras, no ano passado, os dois chefes de governo apenas mencionaram um "diálogo em nível técnico" ocorrido este mês. Nem mesmo o simpático lobby que Lula pretendia fazer a favor da carne brasileira, oferecendo um churrasco às autoridades japonesas, deu certo. O Japão barrou a entrada do produto. Pelo visto, Koizumi não sente saudades do filé mignon servido no Itamaraty, em setembro passado.

Resultados mais concretos deverão ser alcançados hoje, com a assinatura de 13 contratos num total superior a US$ 2 bilhões, a maior parte deles empréstimos do JBIC para a Petrobrás e a Vale do Rio Doce. Entre eles, se destacam um memorando sobre a estruturação financeira do projeto de modernização da Refinaria Vale do Paraíba (Revap), de US$ 900 milhões, entre a Petrobrás, o JBIC, o Sumitomo Mitsui Banking Corporation e as empresas Mitsui, Itochu e Nexi, e outro, de US$ 400 milhões, entre a Etesco, fabricante brasileira de tubulações para petróleo e gás, e a Mitsubishi Corporation, para serviços em plataformas continentais.