Título: Banqueiros alertam para crescente vulnerabilidade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Economia, p. B4

Instituto Internacional de Finanças quer maior atenção dos emergentes para a deterioração do ambiente financeiro: 'Momento não é para complacência' INTERNACIONAL Paulo Sotero Correspondente WASHINGTON O Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa 360 bancos e seguradoras globais de 60 países, advertiu ontem os países em desenvolvimento sobre "as crescentes vulnerabilidades para sustentar a expansão econômica global" que estimulou fluxos recordes de capitais privados para essas nações nos últimos anos. "É importante que os governos das principais economias de mercado emergentes renovem seu compromisso com políticas econômicas sólidas para salvaguardar os progressos alcançados", afirmou o presidente do Citigroup e primeiro vice-presidente do IIF, William R. Rhodes, numa entrevista convocada fora da rotina, para chamar a atenção sobre a deterioração do ambiente financeiro internacional.

"Já vi esse filme várias vezes, com subtítulos diferentes, e acho importante chamar a atenção das autoridades para o momento, que não é para complacência", afirmou Rhodes, veterano de inúmeras crises financeiras, que entre 1983 e 1994 representou os credores nas várias negociações da dívida externa brasileira. "Sempre que se tem um período de aumento de juros, precedido por um mercado bastante líquido, como o que tivemos nos últimos dois anos, mais taxas de risco baixas e uma falta de diferenciação dos investidores entre tomadores, há uma reação. A pergunta para nós e para os formuladores de políticas em todo o mundo é quando e de que tamanho será a reação."

Rhodes fez elogios rasgados à condução da política econômica do governo Lula. "Uma das coisas para a qual não se dá a devida atenção é que o Brasil melhorou o perfil de sua dívida, levou adiante várias reformas e hoje está em muito melhor forma do que estava há alguns anos para enfrentar os desafios de que estamos falando", disse o banqueiro.

O economista-chefe do IIF, Yusuke Horiguchi, destacou a firmeza da política monetária do País e mostrou-se confiante na capacidade do governo Lula de, a despeito dos problemas políticos que enfrenta no Congresso, aprovar algumas reformas.

A mensagem do IIF foi, no entanto, claramente de apreensão ante o quadro mais complicado da economia internacional. "Atravessamos um período de altos níveis de liquidez e forte expansão econômica, nos quais os mercados emergentes tiveram níveis sem precedentes de crescimento e foram capazes de emitir um volume recorde de emissões de bônus a taxas decrescentes", disse Rhodes. "Acredito que os níveis excepcionais de liquidez levaram à especulação em vários mercados, incluindo o de commodities e de habitação. Agora, no entanto, estamos caminhando para um período no qual a liquidez ficará mais apertada e as taxas de juros continuarão, sem dúvida, a subir."