Título: Lamy promete apoio a países pobres
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2005, Economia, p. B5

Oficialmente indicado diretor da OMC, francês diz que nações em desenvolvimento estarão 'no centro do sistema do comércio'

COMÉRCIO EXTERIOR Jamil Chade Correspondente GENEBRA Tentando conquistar a confiança dos países pobres, o francês Pascal Lamy disse que irá pôr os "interesses das nações em desenvolvimento no centro do sistema do comércio mundial", ao assumir o cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Ontem, em Genebra, Lamy foi oficialmente indicado como o novo diretor da entidade, substituindo o tailandês Supachai Panitchpakdi em setembro. Lamy superou três candidatos, entre eles o brasileiro Luis Felipe de Seixas Corrêa, eliminado logo na primeira fase do processo.

Lamy será o quinto diretor da entidade e, por meio de um comunicado, afirmou que a sua prioridade será concluir a rodada de negociações que ocorre na OMC desde 2001 e que teria de estar concluída até o próximo ano. Para ele, isso irá garantir que "a abertura comercial continue a contribuir para o desenvolvimento".

Para assumir o novo cargo, o francês, que ocupou por cinco anos o posto de comissário da Europa para o comércio e defendeu posições consideradas protecionistas pelo Brasil, agora tenta se dissociar da imagem de representante dos países ricos. "Esperamos que ele seja um diretor de todos os membros da OMC. Se eu tivesse sido eleito, também seria um diretor de todo", afirmou Seixas Corrêa. Segundo ele, Lamy assume o posto com ampla confiança por parte dos países membros, mas terá de responder com resultados nas negociações.

NOVA PROPOSTA

Enquanto Lamy não assume a direção da OMC, os debates agrícolas voltam ao centro da agenda da entidade a partir de segunda-feira. O Brasil levará às reuniões propostas de como deve ocorrer a liberalização do acesso aos mercados no setor de seu maior interesse. A questão das barreiras foi uma das que menos avançaram até agora, e até mesmo o debate sobre os subsídios conseguiu apresentar resultados mais significativos do que a queda das tarifas.

De um lado, os países ricos prometem apresentar listas significativas de produtos que serão considerados sensíveis, e que não poderão sofrer duras quedas nas tarifas de importação, como o açúcar. Já os próprios países em desenvolvimento terão de promover uma coordenação de suas posições nem sempre similares no que se refere ao acesso a seus mercados agrícolas.

Se Brasil e Argentina estão confortáveis em reduzir suas tarifas, o mesmo não pode ser dito de China e Índia, dois importantes países do G-20.

Pequim e Nova Délhi temem que uma abertura radical possa causar um caos social com a quebra de seu setor agrícola. O Brasil, que quer abrir mercados em todos os cantos do planeta, terá de concentrar seu ataque nos países ricos, se não quiser perder o apoio político dos indianos, chineses e outros emergentes.

Hoje, o Brasil realiza uma reunião com o G-20 em Genebra para debater a estratégia negociadora e apresentar as idéias que foram desenvolvidas em Brasília nas últimas semanas sobre como garantir aberturas de mercados sem pôr os países mais vulneráveis em dificuldades. Os esforços atuais têm como objetivo garantir que a OMC chegue para sua conferência ministerial em Hong Kong, em dezembro, perto de um acordo sobre como deverá ocorrer a liberalização dos mercados.