Título: `Lula começa a perder o seu patrimônio ético¿
Autor: Denise Madueño, Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Nacional, p. A4

O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP) avisa que, com a CPI, a oposição "não tem a menor intenção de atingir a nenhuma pessoa". Ao Estado, afirmou que Lula "começa a perder seu patrimônio ético". Eis a entrevista: O objetivo da CPI dos Correios é atingir o presidente Lula?

Nós estamos exercendo o papel que a democracia nos delega, de avaliar o governo e fazer uma fiscalização da administração pública nos limites da Constituição. Não há nenhuma intenção de atingir pessoalmente ninguém. Existe apenas a intenção de mostrar eventuais irregularidades que possam ter sido cometidos por agentes públicos.

Que chance tem o governo de sabotar a CPI?

Nenhuma, porque a opinião pública está acompanhando tudo com a maior acuidade. Ninguém pode impedir a investigação quando os olhos da população estão atentos. Eles não têm propensão ao suicídio.

Há quem diga que o governo quer retardar o início da CPI.

Isso não dá certo. Se eles resolverem usar a maioria para impor uma posição, vão conseguir, porque têm a maioria dos votos. Mas o resultado disso será a disseminação do conflito político por todo o Congresso.

A CPI complica o governo?

Para nós, o governo Lula acaba em 31 de dezembro de 2006. Esse governo vive uma lenta agonia, embora às vezes nos dê a impressão de que a agonia está se acelerando.

Que elementos o senhor tem para justificar essa agonia?

A capacidade de governar e a competência administrativa estão próximas do zero e agora Lula começa a perder o seu patrimônio ético, quando diz que assina qualquer cheque em branco. Ora, ele não pode assinar cheque em branco nem para o Roberto Jefferson (presidente do PTB) nem para ninguém. A população não lhe deu essa delegação pelo voto.

A campanha de 2006 já começou?

Esse clima nunca deixou de existir desde o primeiro dia do governo petista. Lula já assumiu a Presidência sob ótica e perspectiva da reeleição, nunca conseguiu deixar o palanque. Essa viagem ao Japão e à Coréia não tem outro sentido que não o de fazer campanha.

Mas agora é de crer que a oposição subirá num palanque com a CPI.

Todo ato de análise administrativa é político e pode servir para mostrar os defeitos do governo. Vai depender, naturalmente, da existência deles. As irregularidades constatadas farão parte do argumento de que este governo não pode ter mais quatro anos. A diferença é que, até agora, só o Lula e o PT tinham palanque.