Título: Holanda decide dia 1.º, com rejeição na cabeça
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Internacional, p. A12

Dia 1.º de junho, três dias depois da consulta francesa, será a vez de a Holanda dizer "sim" ou "não" à Constituição da União Européia (UE). Nesse país também há uma grande tentação pelo não (mais de 60% do eleitorado), mas lá o referendo não tem força de lei. Contudo, o Parlamento holandês se diz disposto a respeitar o resultado das urnas, desde que haja um comparecimento acima de 30% do eleitorado. Ao contrário do que ocorreu na França, na Holanda se assistiu a um verdadeiro debate sobre a Europa. A campanha de informação começou tarde, mas chegou a tempo de manter a população bem informada sobre vantagens e desvantagens da Carta. Os argumentos são os mesmos da França: queda do crescimento econômico, nova onda de imigrantes, estagnação da Europa, perda de direitos adquiridos, etc. Na área parlamentar, 80% dos deputados são favoráveis. Os analistas dão poucas esperanças aos defensores da Carta. "Não vejo como reverter a tendência", diz Peter Kanne do Instituto NTS. Numa situação mais confortável está o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, cujo país assume em julho a presidência rotativa da UE. Se a França votar não ele poderá se liberar da promessa de convocar um referendo no seu país, onde 60% da população é contrária ao texto. Blair enviou recentemente um projeto de lei ao Parlamento prevendo a convocação da consulta em 2006.

Mas deixou claro que se o não vencer na França será necessário, antes de tudo, ouvir o Conselho de Ministros que reúne os chefes de Estado e de governo dos 25 países da UE.

Nestes últimos dias, a França tornou-se passagem obrigatória para muitos dirigentes europeus em campanha pelo sim - entre eles o alemão Gerhard Schroeder e o espanhol José Luiz Rodaríguez Zapatero. Os dirigentes britânicos, contudo, não atravessaram o Canal da Mancha e mantiveram silêncio absoluto.