Título: Garoto ficou 13 horas conectado
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Vida &, p. A17

"Quando eu saio de casa para o trabalho, ele está lá. Eu chego em casa, ele continua lá. Entro no banho, ele está lá. Saio do banho, ele continua no mesmíssimo lugar", conta a mãe de Pedro (nome fictício), um adolescente paulistano de 14 anos. O "lá" a que ela se refere é o computador da família. O incômodo com o filho sempre grudado na internet piorou quando as notas no colégio começaram a despencar. "Aquilo não era normal", afirma ela, que resolveu levá-lo a um psicólogo em agosto para descobrir qual era o problema. Diagnóstico: vício em internet.

Pedro chegou a ficar 13 horas seguidas diante do computador, conversando com os 101 amigos que ele diz ter no MSN Messenger (programa de conversa em tempo real) - muitos dos quais nunca conheceu pessoalmente. "Foi horrível depois que desliguei o computador naquele dia. Minhas costas começaram a doer muito", lembra o adolescente.

A mãe não culpa o filho. "Eles não podem ficar sozinhos por aí, a cidade é perigosa. Meu marido e eu passamos o dia todo fora. A informática ajuda, é uma espécie de companhia. Mas vira problema quando passa dos limites."

Na tentativa de vê-lo estudando ou simplesmente brincando no playground do condomínio, ela limitou o acesso ao computador e até cortou a mesada. Mas não teve jeito. "A cidade é cheia de LAN houses. A própria escola tem internet. Não tenho como controlar meu filho. Na minha época era diferente. Se havia um programa inadequado na televisão, era só mudar o canal ou desligar. Todo mundo estava junto na frente da TV. Agora é diferente."

Além das notas do colégio, outro sinal de que havia um certo exagero na internet eram as contas de telefone que chegavam no fim do mês. De R$ 40, saltaram para R$ 150. A internet é propositalmente de conexão discada, e não de banda larga, para que sirva de medida - e freio - do tempo de acesso.

Desde que o problema foi descoberto, Pedro se consulta toda semana com um psicólogo. Ele diz que ainda passa muito tempo na internet, mas já tomou consciência de que é preciso se controlar. "Estou começando a ver que tenho como dividir meu tempo. Antes eu dizia para mim mesmo que iria ficar só uma hora na internet, mas acabava ficando o dia inteiro. Agora consigo me controlar um pouco."

A mãe mal pode esperar pelo momento de ver o filho fora do computador. "Se conseguiu passar 13 horas na internet, tenho certeza de que ainda vai ficar pelo menos uma hora lendo um livro."