Título: Onde está o investimento externo
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Economia, p. B1

RIO - Operações envolvendo o capital estrangeiro foram concluídas ou estão em curso, este ano, na aviação, varejo, área financeira, seguros e telecomunicações, para citar apenas alguns setores. Semana passada, a espanhola Mapfre venceu a disputa com a francesa Cardif em leilão e levou o controle (51%) da Nossa Caixa Seguros e Previdência, subsidiária do Banco Nossa Caixa. No início deste mês, o grupo francês Casino aumentou presença no capital do Pão de Açúcar. A portuguesa TAP conduz um plano de capitalização da Varig, na qual poderá ficar com até 20% das ações. Na área financeira, o banco americano Goldman Sachs negocia associação com o Pactual, um dos últimos bancos de investimentos exclusivamente nacionais.

Há mais. No setor de bebidas, a Coca-Cola estuda eventual aquisição da capixaba Sucos Mais, para ampliar seu portfólio de produtos no País. No fim do mês passado, a Telecom Italia assinou acordo para a compra, por 291 milhões, das participações do Banco Opportunity na cadeia de controle da Brasil Telecom e negocia o mesmo com os demais sócios da operadora.

No setor siderúrgico, em junho de 2004 a Arcelor, sediada em Luxemburgo, anunciou a finalização dos entendimentos para se tornar o controladora única da Companhia Siderúrgica Tubarão (CST), com o aumento de sua fatia no capital da empresa de 28,02% para 61,77%. Para a empresa, os investimentos no Brasil "representam uma parte essencial de sua estratégica de manter-se globalmente competitiva, investir onde ela pode produzir produtos de qualidade e com alto custo/benefício, servir sua base de clientes globalmente e criar valor para seus acionistas".

No ano passado, ainda, a AmBev associou-se com a Interbrew, hoje InBev. Os controladores da AmBev ficaram com ações da InBev, sediada na Bélgica, que hoje detém 54,16% do capital total e 80,99% do votante da AmBev, com sede em São Paulo. A gestão ficou compartilhada.

NOVA ORDEM

Todo esse interesse tem uma explicação. No início desta década, além das incertezas internas, os escândalos contábeis em grandes corporações no exterior, o ajuste nas Bolsas de Valores internacionais e os ataques terroristas nos EUA tiraram a capacidade de investimento dos estrangeiros. De dois anos para cá, porém, o cenário é de retomada, juros baixos no mercado internacional e liquidez externa. "O Brasil está em foco porque é uma das maiores economias do mundo e voltou a crescer", diz Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC/SP.

Some-se a isso nova ordem global: a pressão por crescimento em cima das companhias internacionais. Pesquisa da IBM Business Consulting Service com os principais executivos de 450 corporações no mundo concluiu que o maior desafio atual é a expansão e a conquista de mercados. "O grande ganho das pessoas que investem é a valorização das ações. Esta valorização está muito ligada a domínio de mercado, liderança, participação em áreas geográficas importantes", diz Sergio Lozinsky, sócio da consultoria.

Há, também, maior fôlego de empresas nacionais, sobretudo as que ganharam com o forte avanço recente das exportações ou já têm atuação internacionalizada. No mês passado, a Camargo Corrêa assinou acordo para a compra da Loma Negra, principal cimenteira argentina, por US$ 1,025 bilhão. Em 2004, a americana Cargill anunciou a venda de suas operações de suco no País para as brasileiras Citrosuco e Cutrale. A Petrobrás adquiriu negócios de combustíveis e gás (GLP) da italiana Agip no País.

A questão é que o grupo de empresas que consegue partir para aquisições é pequeno, disse Lacerda, citando Vale do Rio Doce, Gerdau e Weg, entre outras. Estas companhias estão em "setores de competitividade inegável e são empresas muito agressivas", diz o especialista, membro do Conselho da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).

TROCA-TROCA

Além das compras de empresas nacionais por estrangeiras, ocorreram mudanças de controladores estrangeiros em empresas no País. A Embratel foi vendida pela americana MCI à mexicana Telmex por cerca de US$ 400 milhões, e a rede de varejo Bompreço passou da holandesa Royal Ahold para a americana Wal-Mart Stores, um negócio de US$ 300 milhões. O Grupo HSBC fechou acordo, em 2003, para a compra das operações do Lloyds TSB relacionadas ao Brasil por US$ 815 milhões.

A tendência deve prosseguir este ano. Há dois meses, o chairman da Coca-Cola, Neville Isdel, mencionou a importância do mercado brasileiro, junto com a Rússia, Índia e China. O projeto é ampliar o portfólio de bebidas. No Brasil, a empresa está analisando a possível compra da Sucos Mais, baseada no Espírito Santo. A Coca-Cola não confirma o interesse.

No transporte aéreo, a TAP já confirmou o interesse em ter até 20% do capital da Varig e indicou que está coordenando um projeto de captação para a companhia aérea, que poderá agregar investidores internacionais. Outro exemplo de avanço do capital estrangeiro deverá surgir no setor bancário. O Pactual confirma as negociações para formar uma joint venture com o Goldman Sachs.