Título: `O mundo de olho no Brasil¿
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Economia, p. B1

RIO - O empresário paulista Abílio Diniz, 68 anos, do Grupo Pão de Açúcar, parece satisfeito com o acordo feito com o sócio francês Casino. Na prática, o Casino, que detinha 24% do negócio, passa a ter 50% da nova holding do grupo de varejo. Mas a gestão continua nas mãos de Diniz. O sócio francês só poderá assumir o controle da empresa dentro de 8 anos, informou o comunicado do grupo. Mas Diniz poderá continuar na gestão. Ele não vê problema na desnacionalização. Afirma que vai continuar no comando e com a gestão "enquanto eu quiser e tiver condições de saúde e de manter boa performance (do negócio)". Em 4 anos, o Pão de Açúcar investirá R$ 2,5 bilhões na abertura de 160 lojas. Veja o que pensa o executivo.

A que o sr. atribui a volta do interesse do capital estrangeiro em ativos brasileiros?

Acredito, que em virtude do crescimento do nosso País, da estabilização econômica e financeira e do grande número de oportunidades criadas aqui, o mundo inteiro está de olho no Brasil e nós devemos estar muito atentos a esse movimento.

O sr. encara a crescente e gradual desnacionalização de empresas brasileiras como um problema?

A entrada de capital estrangeiro, gerido por brasileiros, é extremamente benéfica para o País e para as empresas brasileiras. Há uma tendência de globalização das empresas nacionais o que não significa necessariamente de venda. É bastante positivo que as empresas brasileiras se fortaleçam com esse processo, criando empregos e gerando riquezas. Cabe a nós aproveitar esse movimento e buscar caminhos para tornar as empresas mais fortes, mais eficientes e mais competitivas.

Por que, no Brasil, grande parte das empresas familiares precisou se vender ao capital externo nos últimos anos?

Não acredito em empresas familiares a partir de determinado tamanho e isso não se aplica só às empresas brasileiras. Nos últimos anos, a globalização praticamente eliminou as fronteiras comerciais entre os países. Por isso, no nosso caso, crescer é a única alternativa para melhorar a eficiência, a competitividade e a modernização de serviços.

No caso do Pão de Açúcar, o momento atual aumentou o poder de negociação com o sócio francês?

Temos preparado a empresa para o seu crescimento e perpetuação. Desde que assumi o comando da companhia em 1994 venho preparando o futuro da CBD para que ela se perpetue e seja motivo de orgulho. Uma das ações mais marcantes desse processo foi a abertura de capital em 1995, a entrada do capital do Casino em 1999 e as mudanças implementadas no final de 2002, quando saí da diretoria executiva e assumi a presidência do Conselho de Administração. Agora, depois de 6 anos de uma parceria bem-sucedida, resolvemos consolidar e ampliar as nossas relações. O aumento de participação acionária do Casino vem solidificar todo esse trabalho, com a vantagem de mantermos o DNA da companhia. Vou continuar no comando e a gestão é de minha responsabilidade, enquanto eu quiser e tiver condições de saúde e manter boa performance.