Título: Capital estrangeiro avança no País
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Economia, p. B1

RIO - O capital externo avança no Brasil. Desde o ano passado, o segundo do governo Lula, multiplicam-se os negócios com capital estrangeiro em fusões e aquisições no País. Hoje, a participação dessas operações na quantidade total aproxima-se do nível dos anos de maior ingresso de multinacionais na economia, como os das privatizações. As compras de ativos por estrangeiros cresceram 86% em 2004 na comparação com o ano anterior. Pesquisas da KPMG e da PricewaterhouseCoopers confirmam a tendência, que deve provocar um novo movimento de desnacionalização. "Há hoje uma `neodesnacionalização¿. A primeira onda veio com a privatização. Agora, decorre do apetite internacional e da falta de condições de competição local", analisa o professor da PUC/SP, Antônio Corrêa de Lacerda, autor do livro "Globalização e Investimento Estrangeiro no Brasil". No front interno, o expressivo crescimento do País em 2004 e o compromisso do governo com a estabilidade econômica reforçam a confiança dos investidores e atraem o interesse pelo País.

Segundo o sócio da KPMG André Castello Branco, a proporção das operações envolvendo capital estrangeiro está voltando aos níveis do fim da década passada, quando representavam mais de 60% da quantidade total. Estas operações incluem negócios capitaneados por grupos internacionais e compra de ativos estrangeiros por brasileiros. Em 2004, elas representaram 64% do total, depois de terem caído a 37% em 2002. O restante é de operações domésticas (entre grupos nacionais), que em 2004 somaram 108, a menor quantidade desde 1999.

Detalhamento feito pela consultoria a partir de 2003 demonstra que a compra de ativos por estrangeiros é a que mais avança. Os negócios liderados por empresas internacionais cresceram 86% em 2004: foram 134 operações, que tiveram como alvo empresas nacionais (69) ou negócios no Brasil que já estavam nas mãos de outros grupos internacionais (64). Já as operações comandadas por empresas nacionais variaram apenas 19% ante o ano anterior, para 143 (108 domésticas e 35 aquisições de ativos estrangeiros no País).

De janeiro a março de 2005, somente as aquisições feitas por estrangeiros já representam 56% dos negócios captados pela KPMG. "A tendência é de avanço do capital estrangeiro. O Brasil já está no tabuleiro de fusões e aquisições globais. Teremos cada vez mais um movimento muito dinâmico", diz Castello Branco.

O aumento na quantidade de operações envolvendo capital estrangeiro deve influenciar os investimentos estrangeiros diretos (IED), que não deverão, contudo, voltar aos valores anuais entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões dos últimos anos da década passada. Naquela época, os investimentos globais estavam em alta e o processo de privatização atraiu recursos. Em 2004, o valor chegou a US$ 18 bilhões, em parte influenciado pelo negócio entre AmBev e Interbrew. Em 2003, ficou em torno de US$ 10 bilhões. As projeções para 2005 vão de US$ 15 bilhões a US$ 17 bilhões. Os estudos das consultorias não medem os valores das transações.

Os dados do recente levantamento da PricewaterhouseCoopers, obtidos pelo Estado, refletem a mesma tendência. A análise conclui que "as aquisições de controle por estrangeiros nos primeiros 4 meses de 2005 apresentam o melhor volume dos últimos 3 anos, com um aumento de 27% em relação ao mesmo período de 2004". Houve uma inversão de tendência deste indicador, que estava caindo nos últimos anos. Foram 33 aquisições de controle no primeiro quadrimestre deste ano - 74% acima das 19 no mesmo período em 2003. "Ouço das empresas que hoje há confiança. Antes (em 2002), diziam que a eleição de Lula era um risco. Naquela época, podia ter a melhor empresa brasileira à venda, fazia-se o contato e o negócio era descartado", diz o sócio da PricewaterhouseCoopers Raul Beer.