Título: Energia foi o destaque no Japão
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Economia, p. B5

NAGOYA, JAPÃO - Mesmo arranhada pela crise política no Brasil, a passagem de três dias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Japão, concluída ontem, foi marcada pelo êxito na área de energia. Durante a visita, foram fechados quatro acordos pela Petrobrás. Além disso, tornou-se clara a disposição do governo do primeiro-ministro Junichiro Koizumi de levar adiante os projetos comuns, que poderão significar futuras parcerias para o suprimento de biodiesel e de etanol brasileiro ao Japão. Assim como vem ocorrendo nas visitas anteriores do presidente Lula, o destaque acabou concentrado nas esferas da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Conforme explicou, o governo japonês percebeu que, dentro de cerca de 50 anos, o mundo estará preparado para incorporar uma nova matriz energética, baseada nas células de hidrogênio. Até lá, enquanto ainda se mantiver lastreada no petróleo e no gás, terá de valer-se do etanol e do biodiesel como "ponte".

"Se o Japão adotar a mistura de 3% do álcool à gasolina como obrigatória, teremos um mercado para o etanol semelhante ao nosso", afirmou Dilma, referindo-se à expectativa de suprimento de 1,8 bilhão de litros ao ano. "Chegamos antes para beber nesse rio, com 30 anos de experiência, com custos três vezes mais baixos que os concorrentes, sem nos valer de subsídios e com um produto patenteado."

PRIORIDADE

O principal sinal da equipe de Koizumi colhido pelo presidente Lula foi a criação de um grupo para estudar essa "parceria estratégia" na área do etanol, em curto prazo. Koizumi teria relatado as discussões sobre esse tema com o governo brasileiro durante a reunião de gabinete na última sexta-feira e pedido prioridade a seus ministros no tratamento do assunto.

Em princípio, o grande dilema a ser contornado é a segurança de abastecimento do mercado japonês no longo prazo e a preservação dos preços do álcool de oscilações momentâneas. A receita buscada foi a do investimento na produção, do aperfeiçoamento da logística de escoamento até os portos brasileiros e, depois, até o Japão - algo no qual a Petrobrás deverá atuar - e do financiamento com recursos japoneses.

RESULTADOS

Curiosamente, a área de Dilma Rousseff é a que mais tem garantido ao presidente Lula, em suas andanças ao exterior, resultados palpáveis no curto e no médio prazos.

Em fevereiro, o governo brasileiro celebrou com a Venezuela uma parceria estratégica na área petroleira que deverá impulsionar a construção de uma siderúrgica no Nordeste brasileiro - o Estado ainda não foi definido, garante a Petrobrás.

O acordo foi expandido para a Argentina, onde a Petrobrás mantém amplos interesses na exploração de petróleo e de gás. Por fim, em todos os circuitos pela África, a área energética é uma das poucas nas quais se percebe o claro interesse pelo Brasil. Mesmo da cúpula árabe e sul-americanas, ocorrida em maio, em Brasília, há expectativas de negócios no médio prazo.

O setor energético igualmente poderá contribuir, nos próximos meses, para aplacar a tendência do governo argentino de elevar a temperatura nas relações com o Brasil. Diante do possível "apagão" no país vizinho, que conta com boa parte da matriz energética sustentada pelo gás, o Brasil se propõe a ajudar com a exportação de energia. Mas tudo dependerá, ressaltou Dilma, da recuperação dos reservatórios das hidrelétricas do Sul do País.