Título: Empresas do país se espalham pelo mundo
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Economia, p. B6

DÉLHI - Aos 65 anos, o industrial Rahul Bajaj está entre os 10 homens mais poderosos da Índia, segundo o ranking anual da revista semanal India Today. Sua empresa, a Bajaj Auto, um colosso que vale US$ 11,8 bilhões, faturou em 2004 US$ 1,4 bilhão vendendo motocicletas e triciclos - os pitorescos autorickshaws usados como táxi nas metrópoles indianas. Bajaj viveu de perto as mudanças na Índia na última década. "Tivemos de nos modernizar à força, e não foram poucos os que ficaram pelo caminho", disse ele ao Estado, em Délhi. De uma hora para a outra, as empresas indianas tiveram de aprender as regras da concorrência. No caso de Bajaj significava a disputa com as poderosas fábricas de motos japonesas. Na briga, a Bajaj perdeu a supremacia do mercado indiano, mas aprendeu também que pode ir buscar clientes além das fronteiras da Índia. Atualmente, a Bajaj vende suas motos em 50 países e exportou no ano passado mais de 150 mil motos, um crescimento de 66% em relação ao ano anterior. Tem presença dominante em países como México, Colômbia, Peru, Guatemala, Egito e Irã, inaugurou uma nova fábrica na Indonésia e planeja se instalar em breve no Brasil. "O Brasil é um mercado muito importante e a nossa idéia é instalar uma fábrica no País por volta de 2007", disse Bajaj. A empresa já ensaiou entrar no Brasil em parcerias no passado, mas a experiência não rendeu o que prometia.

A Bajaj é uma das grandes empresas indianas que partiram para a internacionalização. A Tata Motors, fabricante de carros populares pertencente à Tata & Sons - um gigantesco conglomerado de 93 empresas que produz desde chá até aço - também prospecta oportunidades no exterior, inclusive no Brasil. Um dos sonhos de Ratan Tata, o dono do conglomerado, é produzir um carro que custe no máximo US$ 2,5 mil. "Se der certo, será um produto perfeito não só para o Brasil, como para todos os países em desenvolvimento", avalia Rajiv Dube, vice-presidente da empresa.

Mesmo que o carrinho barato não saia do papel, a América Latina e o Brasil continuarão nos planos da empresa, que acaba de comprar a divisão de caminhões da coreana Daewoo por U$ 118 milhões. Por enquanto, o grupo Tata atua no Brasil por meio da Tata Consulting Services, empresa especializada em serviços de informática e software, que está há dois anos no País e tem 300 funcionários. A meta por aqui é dobrar de tamanho a cada ano e chegar a 2008 com 1,5 mil funcionários. E, de quebra, abrir caminho para o resto do grupo.

Os indianos têm fome de expansão e aquisições. Entre 2001 e 2003, 120 empresas estrangeiras valendo mais de US$ 1,6 bilhão foram compradas por empresas indianas. A Índia é hoje o oitavo maior investidor no Reino Unido, com um total de 440 investimentos. Mais de 1.500 empresas, a maioria de alta tecnologia, tem operações em Cingapura, um dos grandes centros financeiros da Ásia, e 92 empresas indo-americanas empregam 20 mil pessoas nos Estados Unidos, gerando negócios da ordem de US$ 2,2 bilhões. Sete empresas indianas estão listadas na Bolsa de Nova York, 3 na Nasdaq, a bolsa de tecnologia dos Estados Unidos, e mais de 15 empresas têm ações na Bolsa de Londres. E os indianos dizem que este é só o começo.