Título: Os jovens mudam o estilo de administração
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Economia, p. B6

MUMBAI, ÍNDIA - Os grandes conglomerados indianos, muitos deles seculares, estão mudando de cara. Uma nova geração de industriais e herdeiros começa a tomar postos e criar novos padrões de administração das empresas. As faces mais visíveis desse fenômeno são os irmãos Mukesh e Anil Ambani. Os dois assumiram o Reliance Group, o maior grupo industrial da Índia, há três anos, com a morte do pai e fundador Dhirubhai Ambani. Os dois executivos - conhecidos como Ambani boys - estão reinventando a empresa, um gigante com receita de US$ 16,8 bilhões. Eles apostam firme em negócios das áreas de biotecnologia, software e telecomunicações. Foi deles a idéia de criar um complexo tecnológico de 56 hectares em Navi Mumbai (Nova Mumbai), nos arredores da metrópole. Chamado de Cidade do Conhecimento, parece ter sido transportado pronto, diretamente da Califórnia para a velha e calorenta Bombaim. "As pessoas vão se lembrar de você não pelo seu dinheiro ou seu poder, mas pelo o que você deixou para trás", costuma repetir Mukesh, que ocupa o cargo de presidente da empresa.

Instalado em um escritório no bairro de Worli, próximo ao centro da cidade, Ness Wadia, de 33 anos, também se ocupa em imprimir sua personalidade aos negócios de sua família. Filho do megaempresário Nusli Wadia, Ness é herdeiro da veneranda The Bombay Dyeing & Mfg. Co. Ltd., fundada em 1879. A família Wadia é conhecida na Índia há pelo menos 250 anos, quando construíam navios para os ingleses.

Hoje, o império familiar é avaliado em US$ 700 milhões e, além da tecelagem The Bombay Dyeing, reúne ainda a fábrica de alimentos Britannia e empreendimentos imobiliários em Mumbai. Os Wadia são uma família parsi, um grupo étnico descendente dos antigos persas que chegou à Índia no século 17. Os Tata, da Tata & Sons, também são parte do mesmo grupo.

"Os jovens, até pouco tempo atrás na Índia, não tinham permissão para pensar. A eles cabia simplesmente fazer o que os pais e preceptores mandavam. Não tinham direito a opinião e seus pontos de vista não interessavam", disse Wadia. "As empresas de alta tecnologia não só mostraram que os jovens sabem tocar um grande negócio como muitas vezes são as pessoas mais aptas a fazê-lo."

Ness Wadia é fã do brasileiro Ricardo Semler, autor do best seller Virando a Própria Mesa, livro sobre os desafios de um jovem herdeiro que assume uma empresa familiar. Desde que o amigo de infância Kia Joorabchian passou a mandar no Corinthians, também começou a assistir jogos de futebol do Brasil via satélite. "Não assistia antes porque por aqui o críquete é mais popular", diz ele.

Ness, que ocupa o cargo de subdiretor-geral da empresa, tem aprendido a tocar o negócio a duras penas. "A empresa estava muito enfraquecida no processo de abertura econômica da Índia e lutamos muito para recuperá-la", conta. Um dos gols recentes do grupo, pelas mãos da divisão de biscoitos da Britannia, foi o lançamento de um pacote de bolachas popular, a Tiger, vendida a apenas cinco rupias, pouco mais que 10 centavos de dólar. Com o lançamento, a participação de mercado da marca saltou de 7% para 15%.