Título: Carro nacional é mais barato lá fora
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2005, Economia, p. B10

O carro compacto Fox produzido pela Volkswagen brasileira atravessa o Atlântico e chega ao mercado europeu a partir de 9 mil (cerca de R$ 28,3 mil). O modelo hoje fabricado no Paraná começou a ser vendido no mês passado e a opção mais barata, com motor 1.2, vai com air bag, direção hidráulica, ar-condicionado e CD player. No Brasil, a versão com os mesmos equipamentos, e motor 1.6, custa R$ 45 mil. A diferença de potência de motor, de acordo com a Volks, não acarreta em elevação significativa de preços nesses casos. A disparidade nos preços, segundo a montadora, é creditada à carga tributária, considerada excessiva no Brasil, campeão em impostos sobre os automóveis entre os principais produtores. O carro nacional recolhe, em média, 28% em tributos diretos. Os veículos com motor 1.0 pagam 27% de imposto; até 2.0 pagam 30%; e acima de 2.0 recolhem 36%.

Na Europa, para onde um veículo totalmente desenvolvido no Brasil entra pela primeira vez, o imposto varia de 13% a 16% em regiões de maior consumo como Alemanha, França e Reino Unido.

O Gol, carro brasileiro mais exportado atualmente, tem preços variados nos países em que é vendido. Na Argentina, a versão básica, com direção hidráulica, chega por R$ 16,8 mil, próximo ao preço cobrado no México, de R$ 16,9 mil. Na Argélia, é vendido a R$ 23,1 mil. Na distante Rússia, o Gol é oferecido a R$ 31,1 mil, apenas R$ 100 a mais do que o brasileiro paga por uma versão similar.

O Brasil se consolida como um dos países que mais cobra impostos sobre os automóveis, afirma o vice-presidente da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto. Mesmo nas exportações, diz ele, há incidência de tributos, o que reduz a competitividade do produto brasileiro.

¿Somos grandes arrecadadores de impostos¿, define o executivo, referindo-se às montadoras. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a indústria automobilística brasileira é atualmente responsável por 11,3% de toda a arrecadação de impostos no País. Na Europa, a participação do setor é de 7,7%. A carga tributária está no rol de reclamações da entidade há décadas.

A picape Montana, da General Motors, por exemplo, no Brasil vendida a R$ 33,7 mil, custa R$ 10 mil a menos no México, onde o imposto é de 15%. A diferença é ainda maior na minivan Meriva, vendida para os mexicanos a R$ 29,2 mil e, para os brasileiros, a R$ 44,9 mil. Os cálculos levam em conta a cotação do dólar a R$ 2,50. As empresas informam que, além do imposto, é preciso levar em conta as condições econômicas e de consumo de cada país. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Golf exportado pela Volks é vendido como carro de entrada, ou seja, o mais barato da linha. Custa US$ 15,7 mil (cerca de R$ 39,2 mil). No mercado brasileiro, onde é um modelo considerado médio ¿ mais luxuoso que um básico, portanto ¿ sai por R$ 55,4 mil.

COMPRA E USO Para o presidente da Citroën do Brasil, Sérgio Habib, uma alternativa para reduzir o peso da carga tributária seria diminuir a tarifa do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e aumentar o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Ou seja, ¿aumentar o imposto do uso do automóvel e diminuir o da compra¿. A fórmula, defendida também pela Anfavea, é a usada nos países europeus. No Brasil, da carga tributária incidente sobre um automóvel, 37% é gerada na aquisição e 63% na propriedade e uso. Na Europa, como comparação, esses porcentuais são de 26% e 74%, respectivamente.

Enquanto o assunto não entra na pauta de discussões do governo, o EcoSport, que é vendido no País por R$ 49,9 mil, sai da fábrica da Ford, na Bahia, e chega ao México por R$ 39,7 mil, equipado com ar condicionado, air bag e outros itens.

A diferença, neste caso, se resume ao uso de freios normais na versão mexicana, enquanto aqui é equipada com ABS, que evita o travamento das rodas, e em pequenas adaptações no motor, que roda com gasolina pura (nafta).

Na vizinha Argentina, que tem a segunda maior alíquota de imposto para carros (23%, em média), o Palio Fire 1.3 exportado de Minas Gerais é vendido a R$ 18,2 mil. Para os brasileiros, custa R$ 22,9 mil.