Título: Palocci rejeita expansão com inflação
Autor: João Caminoto e Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Economia, p. B2

O governo vai dar prioridade ao combate à da inflação, ainda que isso signifique frear o ritmo do crescimento econômico. Esse foi o recado dado ontem pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Eu não vejo vantagem de se ter um pouco mais de crescimento com um pouco mais de inflação", afirmou. O ministro disse que se o País conseguir, com baixa inflação, crescer um pouco mais, isso será muito bom. "Mas eu não comprometeria o processo inflacionário com um pouco mais de crescimento, porque o combate a essa inflação suplementar vai custar mais caro nos próximos anos." Ele não concorda com as previsões pessimistas para o crescimento econômico este ano, mas evitou confirmar que a estimativa oficial de expansão do PIB, de 4%, será atingida. "O sentimento pode ser sempre subjetivo, eu não concordo que se possa dizer que há um clima mais negativo em relação ao crescimento", disse.

Ele lembrou que o Brasil não tem meta para crescimento: "Isso depende de muitos indicadores, alguns estão sob nosso controle, a maioria não, inclusive a evolução do crescimento mundial." O ministro disse estar otimista em relação ao crescimento em 2005, "mas prefiro deixar os números virem, não quero brigar com eles." Em defesa da política de juros que vem sendo aplicada pelo Banco Central, Palocci descartou o aumento dos depósitos compulsórios como alternativa à elevação da taxa Selic. "Eu penso que a política monetária fez o efeito desejado quando combateu a inflação de 2002, e que agora já está fazendo o efeito necessário também, que é o de buscar perspectiva de inflação mais baixa", afirmou.

PREVIDÊNCIA

Palocci discordou da avaliação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de que o Brasil deveria realizar um maior aperto fiscal para facilitar o cumprimento das metas inflacionárias. "O nível de compromisso fiscal que temos hoje é adequado para o Brasil", disse, ao ser questionado sobre o documento divulgado ontem pela entidade (ver texto abaixo).

Na avaliação do ministro, são necessárias duas coisas para a consolidação fiscal: "A primeira é encarar a Previdência definitivamente como uma questão a ser enfrentada nos próximos 4, 5 anos de maneira decidida. Nesse momento, depois de duas reformas, o que precisa é um choque de gestão." Depois disso, poderá haver o levantamento de novas medidas legais, "mas acho que não deveríamos mexer com medidas legais antes de arrumar a gestão da Previdência, que está visivelmente desarrumada."

Ele admitiu que o projeto de previdência complementar para os novos funcionários públicos está atrasado, mas deve ser enviado ao Congresso ainda neste semestre.

O segundo aspecto, segundo Palocci, seria o Brasil adotar metas de longo prazo para as contas públicas, como hoje é feito na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). "Devemos ampliar esse debate, inclusive no Congresso Nacional", disse. "Essas mudanças não seriam apenas para esse governo, mas os próximos 10, 15 anos. Com metas fiscais de longo prazo, a tendência é o mercado fazer a leitura disso de forma antecipada. Assim, nós ganharemos em termos de spreads agora, e não lá na frente, desde que seja um compromisso muito forte, claro, consistente. Vamos dizer que o Congresso se reúna, discuta e chegue à conclusão de que deveria trabalhar com um compromisso de dez anos. Tudo isso tem valor e ele é maior do que você falar que este ano vai fazer 0,15% ou 0,25% a mais de superávit primário."