Título: Samsung faz 4 advertências ao País
Autor: Denise Chrispim Marin e João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Economia, p. B4

Com discurso pronto nas mãos, o presidente Lula ouviu do principal executivo da Samsung Electronics, o vice-presidente Yun Jong-Yong, quatro advertências para que as empresas sul-coreanas possam iniciar o ciclo de investimentos no Brasil. Ele alertou para a necessidade do fim da guerra fiscal entre os Estados, do alinhamento dos incentivos fiscais brasileiros aos dos outros países, da diminuição da burocracia e da estabilidade das regras do jogo. Lula escutou as advertências, mas não fugiu do roteiro para respondê-las. Em descompasso, preferiu fixar-se na leitura do discurso, que defendia a criação de um projeto de desenvolvimento comum e a ousadia nas relações entre a Coréia e o Brasil. "O Brasil representa seguramente uma enorme oportunidade de investimento para os capitais coreanos", disse, ao encerrar o seminário "Brasil-Coréia: Oportunidades de Comércio e Investimento". "Convidamos empreendedores coreanos a realizar investimentos diretos no Brasil, inclusive mediante joint ventures, e também os empresários brasileiros a investir na Coréia."

Na exposição, Lula mencionou como prioridade nos negócios bilaterais as áreas espacial, biotecnologia, eletrônica e tecnologia limpa. Mais especificamente, lembrou o interesse brasileiro nos investimentos coreanos em mineração, na produção de etanol e em grandes obras de dos setores de energia e de transportes, assim como os projetos de infra-estrutura que fazem parte do plano de integração da América do Sul. "Contamos com o apoio do Banco Coreano de Desenvolvimento para viabilizar o financiamento de alguns desses projetos", afirmou, para logo em seguida lembrar que o programa das Parcerias Público-Privadas (PPPs) seria também seria uma alternativa.

Sem respostas para os dilemas da guerra fiscal e da estabilidade jurídica, Lula acentuou a estabilidade macroeconômica e a avaliação de que seu governo lançou as bases para um novo ciclo de investimentos, apoiado nos indicadores mais favoráveis na última década e das reformas realizadas. Entre os números, mencionou o objetivo de manter o ritmo de crescimento do PIB em 2004, de 5,2%, o controle da dívida externa e a redução da dívida externa. Desde 2003, disse, foram criados 2,7 milhões de postos de trabalho, e o comércio exterior vem apresentando "resultados animadores".

"As medidas tomadas ao longo dos dois primeiros anos de meu mandato exigiram sacrifício de todos os setores da população. Agora, estamos colhendo os frutos da nossa força de vontade", afirmou. "Tudo isso demonstra que é possível alcançar crescimento econômico sustentável sem prejuízo da estabilidade monetária e da responsabilidade fiscal, tampouco descuidando do resgate da nossa enorme dívida social."

O encerramento do seminário marcou o fato de o governo não ter conseguido convencer a siderúrgica coreana Posco a investir no Maranhão, conforme era previsto no início da semana. A empresa assinou com a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) só uma ementa ao acordo anterior, que previa o investimento.

Titubeando entre o Brasil e a Índia, a Posco decidiu apenas estudar a viabilidade de estabelecer uma joint venture com a Vale no Maranhão para produzir até 7,5 milhões de toneladas de placas de aço por ano, animada pelas regras de incentivo fiscal da " MP do Bem", ainda não concluída pelo governo federal.

Ambas as empresas também decidiram só avaliar a expansão da joint venture Kobrasco, em Vitória, para que aumente sua produção de 4,5 milhões de toneladas de pelotas de ferro para 6 milhões. Nenhum martelo foi batido nessa área.

De concreto, Lula viu só a assinatura do acordo entre a Eletrobrás e a Korea Electric Power Corporation (Kepco) para o investimento de US$ 1,5 bilhão em projetos no setor energético nos próximos anos. Foi anunciado, também, o acordo de intenção entre a Vale, a italiana Danieli, a siderúrgica coreana Dongkuk, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o Banco do Nordeste e o Estado do Ceará para a instalação de uma usina de produção de placas de aço em São Gonçalo do Amarante.

EXECUTIVOS

Ontem à noite, Lula reuniu-se com 14 diretores das maiores corporações empresariais sul-coreanas. Participaram executivos da Siderúrgica Posco, da Samsung Electronics, Hyundai Motor Company, SK Corporation, que atua nos ramos de energia, química e fármacos, e a estatal Korea Electric Power Corporation.

Na agenda econômico-comercial de Lula na capital sul-coreana, este encontro foi considerado o mais importante, pela capacidade de produzir resultados em termos de atração de investimentos para o Brasil.

O Palácio do Planalto havia testado essa fórmula de reuniões diretas do presidente e seus ministros com executivos de grandes corporações em Genebra e em Davos, na Suíça, e em Nova York.