Título: Novo diretor do BC defende meta flexível
Autor: Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Economia, p. B3

Sabatinado ontem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o diretor indicado para a área de Estudos Especiais do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, mostrou-se favorável a mudanças no sistema de metas de inflação. Ele foi aprovado com 24 votos favoráveis e 1 contra e sua indicação será submetida agora ao plenário do Senado. Tombini foi indicado para substituir Eduardo Loyo, que será o representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional, em Washington. Apesar de ser contrário a mudanças na meta fixada em 4,5% para 2006, ele prometeu estudar a adoção de um prazo maior para a inflação convergir para a trajetória quando o índice ultrapassar o limite. Por essa lógica, a política de juros poderia ser menos rigorosa. Foi a única concessão feita por Tombini, futuro integrante do Comitê de Política Monetária. Ele reafirmou que, críticas a parte, a taxa de juros é o melhor instrumento para garantir a volta da inflação ao nível desejado e rebateu a proposta de elevar o compulsório (parte dos depósitos captados pelos bancos que é recolhida no BC) para conter a demanda.

A postura flexível com relação às metas de inflação do economista - funcionário de carreira do banco - animou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante. Ele aproveitou a sabatina e antecipou o debate em torno da revisão da meta de inflação para 2006. Em junho, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deve definir a meta para 2007 e poderá rever a de 2006. A tendência é de que a meta de 2007 também seja de 4,5%, pois foi o número usado para elaborar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Mercadante defende uma meta mais alta. Considerando que este ano o BC já anunciou que vem orientando a política de juros com base num IPCA de 5,1%, acima do centro da meta oficial de 4,5%, o senador diz que o governo deveria adotar em 2006 este valor mais alto. Com isso, afirma, o País poderia ter juros menores e seria menos custoso para a economia conciliar inflação baixa com maior ritmo de crescimento.

"A partir de determinado patamar, a política monetária sobrecarrega a área fiscal e fragiliza a capacidade de investimento. É melhor termos um processo de desinflação mais lento como fizeram vários países. O importante é que a trajetória da inflação ao longo dos anos seja declinante", defendeu Mercadante.

Para Tombini, mudanças no valor da meta já fixada interferem nas expectativas de empresas e investidores quanto ao comportamento futuro dos preços: "Estudos mostram que a variável-chave nas expectativas é a própria meta. Quando se ajusta a meta, ajustam-se também as expectativas. Assim, o custo para a economia no curto prazo pode ser tão alto quanto o de deixar a meta no valor originalmente estabelecido".

Sobre o prazo maior para a inflação voltar ao patamar desejado, Tombini afirmou que que o Brasil vive um processo de desinflação e acaba-se ficando preso no ano calendário. Mas acredita que no médio prazo será possível adotar novas alternativas.

A adoção de regime de câmbio flutuante, sistema de metas que garantirá o controle da inflação e avanços na redução da dívida pública e nos indicadores de endividamento externos permitirão ao Brasil atingir o nível de investimento na escala das agências internacionais de classificação de risco em no máximo três anos. "Vejo como muito promissora essa possibilidade. A velocidade disso dependerá dos avanços adicionais nas reformas estruturais."