Título: Desemprego na Grande SP cresce há 3 meses
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Economia, p. B7

O desemprego na Grande São Paulo subiu em abril, pelo terceiro mês consecutivo. Pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostra que a taxa de desemprego atingiu 17,5% da população economicamente ativa (PEA), ante 17,3% em março. Segundo a pesquisa, o número de desempregados na região chegou a 1,753 milhão, 38 mil a mais do que no mês anterior. Apesar da alta nos últimos três meses, a taxa ainda é a menor para um mês de abril desde o de 1997, quando estava em 15,9%. O desemprego subiu no mês passado porque o número de novos candidatos a uma vaga no mercado de trabalho superou a quantidade de postos criados no período. Foram abertas 69 mil vagas, contra 107 mil pessoas que passaram a procurar emprego.No setor de serviços, foram criadas 53 mil postos de trabalho. Outras 24 mil vagas foram abertas na construção civil e serviços domésticos. Já no comércio, foram cortadas 5 mil vagas, enquanto a indústria fechou 3 mil postos.

Leandro Matoso de Oliveira, de 25 anos, é mais um que entrou para a fila dos desempregados. A empresa em que trabalhava como assistente administrativo precisou cortar gastos e ele foi demitido em fevereiro. Até ontem, circulava em meio aos plaqueiros (homens vestidos com coletes com anúncios de empregos) atrás de uma vaga com o seu perfil.

Em dois meses, Oliveira distribuiu pelo menos 60 currículos e passou por diversas entrevistas. Enquanto não é chamado, tenta controlar os gastos com o que recebeu na rescisão, além de contar com o apoio da namorada, com quem mora em Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. "É a primeira vez que estou a procura de emprego e é difícil. Não dá para entender quando leio que a taxa de desemprego caiu."

Ele diz que tenta se manter calmo, mas às vezes "bate um desespero". "Vejo que corro atrás, tenho capacidade e não há oportunidade para mostrar o que sei e exercer minha função". Como alternativa, decidiu que enfrentar um curso especializante para ver se consegue um emprego mais rápido. Oliveira parou a faculdade de Administração no 3.º ano e espera voltar quando estiver empregado.

A pesquisa mostra que a renda também não dá sinais de melhoria. Em março (último dado disponível), o rendimento médio real dos ocupados manteve-se estável em R$ 1.018, com ligeira queda de 0,1% tanto na comparação com fevereiro quanto com março de 2004. Com isso, a massa de rendimentos (soma de todos os rendimentos do trabalho) permaneceu estável em relação a fevereiro. Na comparação com março de 2004, houve crescimento de 5,9%, refletindo o aumento do emprego, já que os rendimentos médios diminuíram no período.

Na avaliação de Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese, o desemprego deverá voltar a cair em maio "É provável que isso aconteça, pois haverá um número menor de pessoas em busca de emprego". Ele classifica como "muito forte" o saldo de 69 mil vagas criadas no mês passado. "Nos três primeiros meses do ano, tivemos um represamento de pessoas procurando trabalho, o que reaparece agora em abril", explicou, ao descartar a possibilidade desse movimento se repetir em maio.

No entanto, Alexandre Loloyan, coordenador de análise da Fundação Seade, observa que há algumas incertezas, principalmente por causa da alta das taxas de juros, iniciada em setembro. Segundo ele, as alterações no juro levam de seis a nove meses para provocar efeito na economia.

Até agora, a expansão do crédito e um pequeno crescimento da renda nos últimos 12 meses têm contribuído para que a taxa de desemprego não seja ainda maior. A manutenção de consumo de bens duráveis e não-duráveis, tem se refletido na abertura de postos de trabalho, principalmente nas indústrias.