Título: Queda do dólar reduz preço de produtos e estimula o turismo
Autor: Vera Dantas e Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Economia, p. B8

A queda sucessiva do dólar nos últimos meses começa a se refletir nos preços de produtos importados, nas vendas de pacotes de viagens de turismo e intercâmbio. Nos supermercados a redução não é generalizada, mas é perceptível nos preços de importados e em alguns produtos nacionais que incorporam matérias-primas cotadas em dólar. O presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Sussumu Honda, calcula uma queda em torno de 10% nos preços. Na rede Wal-Mart, os alimentos com cotação em dólar estão com redução média de 10% a 12%, e em euro, de 6% a 7%. Mas isoladamente alguns cortes de preços podem ser maiores. No Grupo Pão de Açúcar, por efeito da queda do preço da soja desde o segundo semestre do ano passado, os óleos de soja estão com redução de 18% no primeiro quadrimestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Entre os importados, o bacalhau está 10% mais barato.

"O repasse não é integral porque muitas indústrias alimentícias exportam também, e como estão perdendo na venda externa, com o dólar baixo, procuram compensar esta redução no mercado interno", diz Honda. Nestes casos, os preços se mantêm ou têm redução muito pequena. A questão do comportamento dos preços de commodities no mercado internacional, observa, também afeta o custo final do produto. "A farinha de trigo teve alta no mercado externo, anulando reduções nos preços de produtos derivados como macarrão e pão", acrescenta.

Para o presidente da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras), João Carlos de Oliveira, o dólar despencou mesmo nos últimos dois meses, e daqui para a frente é que esta queda deve ficar mais visível nas negociações com fornecedores. A rede Carrefour informa que poderá repassar as reduções após novas negociações com a indústria, se o dólar se mantiver baixo. No Pão de Açúcar, a expectativa é que a negociação de alguns produtos para o inverno, como vinhos, fique mais vantajosas nos próximos meses.

No supermercado Santa Luzia, localizado nos Jardins, e onde os importados representam metade dos estoques, a queda do dólar contribuiu para um aumento em torno de 10% nas vendas de vinhos, champanhes, queijos, conservas, biscoitos e chás e outros produtos. "Tivemos uma queda em média entre 10% e 12% nos preços," diz o proprietário do supermercado, Jorge Conceição Lopes.

Para aumentar as vendas de vinhos, a rede decidiu casar a queda da moeda americana com promoções semanais. "Mesmo com preços mais baixos, a concorrência está muito grande", diz Lopes. Um vinho francês comum vendido por R$ 23,80 está agora por R$ 17,80.

VIAGENS

A procura por pacotes de viagens internacionais para as férias de meio do ano e para intercâmbio também movimenta as operadoras e agências de turismo. A baixa no dólar convenceu Lilian Martins Albino a marcar sua viagem de estudos para o Canadá, planejada há dois anos. Ela vai passar um mês em Toronto estudando inglês e vai gastar pouco mais de US$ 2 mil, o que inclui o curso, acomodação em casa de família e as passagens aéreas. "Eu imaginei que gastaria bem mais. Até perdi um pouco de dinheiro, pois comecei a comprar dólares na época em que ainda estava no patamar dos R$ 3 a R$ 4", conta. A empolgação com a viagem levou o marido, Eduardo Martins Albino, a querer ir também. "É uma oportunidade ótima para viajar", diz Lilian.

Entre julho e agosto do ano passado, a CVC despachava para Bariloche, na Argentina oito vôos charter semanais. Na temporada de inverno deste ano, a cidade receberá 14 vôos semanais da operadora. O preço de um pacote para Bariloche caiu de R$ 2.604 no ano passado para R$ 2.127. "Numa viagem para uma família de 4 pessoas, a redução de R$ 477 por passageiro é significativa", diz o diretor da área internacional, Michael Barkoczy.

A CI - Central de Intercâmbio, especializada no segmento de viagens voltadas ao público jovem, registra um aumento próximo a 100% em relação ao mesmo período do ano passado na procura por pacotes educacionais.