Título: Calçado do Brasil na Argentina sob novo impasse
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Economia, p. B10

Depois de dois dias de duras negociações, representantes das empresas de calçados do Brasil e da Argentina encerraram ontem as negociações sem chegar a um acordo sobre a limitação das vendas brasileiras. Diante desse novo impasse, empresários da brasileira Abicalçados e da argentina Câmara da Indústria do Calçado (CIC), continuarão as discussões na semana que vem. O pivô do conflito é a exigência da CIC de que os brasileiros aceitem "voluntariamente" a aplicação de uma "auto-limitação" de suas vendas ao mercado argentino. No início das negociações, os argentinos queriam limitar as vendas brasileiras a 10 milhões de pares anuais. Os brasileiros defendiam 15,3 milhões de pares (volume vendido em 2004). Depois de horas de discussões, teriam encontrado relativo consenso em 12,9 milhões de pares. Além do volume, também se discute a duração do acordo. A CIC exigia três anos, a Abicalçados pedia um só. No fim das reuniões, tudo indicava que poderiam concordar com um ano e meio.

Segundo o diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, se a Argentina aplicasse salvaguardas contra os calçados brasileiros, com uma fórmula similar à da entrada desse produto de outros países, a cota brasileira poderia ser de cerca de 15 milhões de pares.

Klein também disse que há anos os brasileiros pedem aos argentinos um estudo sobre o tamanho do mercado local. Mas, a pesquisa, a cargo do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), não tem data para ser concluída. Os argentinos argumentam que o mercado é de 77 milhões de pares e os brasileiros acham que seria de 100 milhões. Os importadores argentinos de calçados argumentam que seria de 120 milhões de pares.

"Nós sempre pleiteamos 21% do mercado. Não queremos reserva de mercado, mas não queremos que nos impeçam de crescer aqui enquanto os calçados de terceiros países estão livres", diz Klein. Segundo ele, os dados do governo argentino indicam que a participação brasileira nos calçados importados teria caído de 82% para 75%. A definição da proporção no mercado argentino, segundo Klein, seria o principal impedimento para um acordo.

O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Márcio Fortes, declarou em Buenos Aires que os empresários "estão aproximando os números". Otimista, ele disse que entre os dois lados "existe uma harmonia total". Segundo Fortes, "são duas posições que podem se encontrar no meio do caminho".