Título: Crise boliviana não é hecatombe, diz diretor da Petrobrás
Autor: Nicola Pamplona e Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Economia, p. B12

A nova Lei de Hidrocarbonetos aprovada na semana passada pelo governo da Bolívia não vai causar nenhuma "hecatombe". A opinião é do diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, que minimizou os efeitos da lei em entrevista concedida ontem ao Estado. Segundo ele, o mercado brasileiro de gás não deve enfrentar problemas de abastecimento, já que a estatal trabalha para antecipar a produção das reservas da Bacia de Santos. Cerveró disse que os volumes de importação contratados para o Gasoduto Bolívia-Brasil continuam vigentes. São 30 milhões de metros cúbicos, dos quais a estatal traz hoje cerca de 24 milhões (64% da demanda do País).

Neste caso, os únicos perdedores são os produtores de gás na Bolívia, que terão sua rentabilidade reduzida, já que o imposto sobre a produção foi aumentado para 50%. Os preços de venda do produto para o Brasil, porém, continuam os mesmos, garantiu.

"Há um certo exagero no tratamento desse assunto", afirmou o executivo. A Petrobrás, no entanto, está reavaliando seu plano de investimentos relacionados ao gás boliviano, para se adequar às condições impostas pela lei.

Segundo Cerveró, havia um projeto de US$ 1 bilhão no aumento da produção em campos locais para abastecer o pólo gás-químico da fronteira - parceria com a Repsol e a Braskem - e o Gasoduto do Noroeste Argentino, que aumentaria a capacidade de fornecimento ao mercado daquele país.

Todos os projetos estão suspensos até o fim da reavaliação econômica de cada um. O gasoduto e o pólo gás-químico dependem de uma produção adicional de gás de pelo menos 30 milhões de metros cúbicos, a preços competitivos, o que pode ter se tornado inviável com a instituição do novo imposto.

A Petrobrás, porém, continua sua atividade exploratória, em busca de novas reservas na Bolívia. "São investimentos pequenos, depois avaliamos o que fazer", explicou Cerveró. Segundo a lei, as reservas de gás voltam a ser propriedade do governo boliviano e as petroleiras atuarão como prestadoras de serviço, recebendo pela operação dos campos. O modelo é semelhante ao vigente no México, onde a estatal também atua.

O diretor da Petrobrás negou que haja problemas também na Venezuela, onde o governo Hugo Chávez anunciou recentemente mudanças nos contratos do setor, determinando que a estatal PDVSA ganhe participação em investimentos de petroleiras privadas. Lá, disse Cerveró, a Petrobrás terá de ceder 50,01% de cada campo produtor que possui, mas ganhará em troca participação em novos projetos. "Vamos aumentar nossas reservas na Venezuela", afirmou. Os detalhes da mudança estão em negociação entre as duas empresas.

Se na América do Sul, a pauta é conturbada, na costa africana há boas notícias: a estatal descobriu petróleo e gás no bloco 324, em águas ultraprofundas, na Nigéria. A empresa vai perfurar mais um poço no local para comprovar se as reservas são comerciais. Naquele país, a empresa trabalha junto com parceiros para colocar em operação, nos próximos três anos, dois campos gigantes de petróleo, chamados Akpo e Agbami. Com investimentos previstos em cerca de US$ 3 bilhões cada, os dois campos vão render à estatal, juntos, até 200 mil barris de petróleo de boa qualidade por dia.