Título: Bovespa de olho no comportamento das mulheres
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Economia, p. B20

No momento em que o setor financeiro brasileiro se envolve com o tema da educação financeira, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) decidiu começar investindo nas mulheres. A entidade lançou ontem uma cartilha voltada para o público feminino, o "Guia de Planejamento Financeiro", que traz desde informações sobre como equilibrar orçamentos domésticos até diretrizes para escolher aplicações financeiras. O lançamento faz parte do programa de popularização do mercado de capitais, o "Bovespa vai até você", em andamento desde 2001, e será a primeira iniciativa de um programa mais extenso de educação financeira, que a entidade lançará no segundo semestre e que vai abranger estudantes, aposentados e profissionais liberais.

O público feminino é considerado estratégico por uma série de razões. A primeira é a grande participação feminina nos Clubes de Investimentos da Bovespa, espécie de fundo onde pessoas físicas investem em ações por um sistema de cotas. A partir dessa constatação, a Bolsa resolveu investir numa pesquisa para decifrar o perfil das mulheres que estavam interessadas nos papéis.

"Notamos uma mulher de classe média, preocupada com o futuro, com a educação dos filhos, em formar um patrimônio e que procurava investimentos de longo prazo", diz Luís Abdal, diretor de Marketing da Bovespa. A partir dessa percepção, a Bolsa criou outro programa, o "Mulheres em Ação", para delinear uma aproximação maior com o público feminino.

A cartilha lançada ontem é o primeiro fruto. "Havia muita demanda por informações sobre finanças, e não só sobre o mercado de ações", acrescenta Abdal. Escrita em linguagem simples e ilustrada com imagens bem-humoradas, será distribuída na própria Bovespa e também em bibliotecas, escolas, universidades e sindicatos de todo o País. "É um modo simples e feminino de abordar o assunto", afirma Inês Bozzini, coordenadora do programa "Mulheres em Ação".

Planejamento financeiro, envolvimento da família no equilíbrio do orçamento doméstico, como lidar com o crédito, relacionamento com instituições financeiras e objetivos de vida são os tópicos dos cinco capítulos que compõem a publicação. Para Angela Barros, que também é coordenadora do "Mulheres em Ação", faltam publicações sobre finanças voltadas para o público feminino. "Convivemos com o marketing do consumo e com a sedução do crédito fácil, o que faz com que não sobre dinheiro no final do mês", diz.

A Bovespa se diz precursora do atual movimento de educação financeira e incentivo ao crédito consciente que envolve bancos e afins. "A intenção, em 2001, era popularizar o investimento em ações, mas lançamos uma semente de educação financeira que acabou influenciando todo o setor ", afirma Abdal .

O programa de popularização do mercado de ações trouxe números expressivos para a Bovespa. Em 2001, eram 400 investidores (pessoas físicas) registrados nos clubes de investimento. Este ano, chegam a 1.200. A participação em volume das pessoas físicas era de 15%, hoje é de 30%.