Título: Ameaça de vice-líder contra a base causa revolta
Autor: Christiane Samarco e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA Causou mal-estar na base aliada a declaração do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara, de que os parlamentares que assinaram a CPI dos Correios não devam ser tratados como aliados. Albuquerque, que viajou com Lula à Coréia do Sul, disse que o presidente concordou com as argumentações dele de que "vai acabar o pão-de-ló e o cafuné para quem quiser jogar contra o governo". O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), saiu a campo para tentar evitar mais um foco de incêndio. "Esse tipo de declaração não ajuda o nosso trabalho aqui, porque houve reação de deputados da base", afirmou Chinaglia. "Se ainda colocou o nome do presidente nisso é inoportuno." Desde cedo, o líder tem sido procurado por deputados que criticaram as declarações.

Deputados do PT que assinaram o requerimento da CPI dos Correios também protestaram. "É um absurdo. Ele (Albuquerque) prestou um grande serviço para quem não quer retirar sua assinatura no pedido de CPI", disse o deputado Chico Alencar, ressaltando que retirar a assinatura agora pode ser interpretado como barganha política com o Executivo.

"Vamos fazer um protesto formal dirigido ao líder do governo e pedir que ele o encaminhe ao presidente Lula. É inadmissível esse tipo de operação no governo", protestou Alencar, afirmando ainda que a declaração de Albuquerque foi "ofensiva" e " desrespeitosa".

O líder do PP, José Janene (PR), protestou com Chinaglia sobre as declarações de Albuquerque. "Ele está exagerando em suas declarações em nome da liderança. Nem digo em nome do presidente Lula, porque isso seria reprovável. Certamente ele não colaborou em nada com o governo, só azedou a relação."

Na semana passada, o vice-líder do governo provocou protestos na oposição. O PSDB e o PFL chegaram a divulgar uma nota conjunta afirmando que o governo utilizava a CPI da privatização do setor elétrico como chantagem para impedir a instalação da CPI dos Correios.

O motivo da reação dos tucanos e dos pefelistas foi a declaração de Albuquerque de que a oposição que se empenhava em criar a CPI dos Correios também deveria se empenhar em investigar as privatizações feitas pelo governo passado.