Título: Dirceu manda equipe do governo aprender 'eficiência' na Casa Branca
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Nacional, p. A5

Alvo de freqüentes críticas por sua falta de capacidade executiva, a administração Lula foi buscar lições sobre como governar num dos lugares menos prováveis, quando se consideram as inclinações ideológicas do PT e o antiamericanismo atávico de muitos de seus membros: a Casa Branca de George W. Bush. Em mais uma demonstração de pragmatismo, o ministro José Dirceu despachou três assessores próximos a Washington com a missão de conhecer o funcionamento da Presidência dos EUA e fazer recomendações sobre como tornar mais eficientes as operações planaltinas. O secretário-executivo da Casa Civil, Swendenberger do Nascimento Barbosa, a subchefe do gabinete para articulação e monitoramento, Miriam Belchior, e a assistente especial do presidente, Clara Levin Ant, iniciaram ontem uma série de mais de dez encontros com os responsáveis por praticamente todos os aspectos político e operacionais da Casa Branca - da chefia do gabinete presidencial ao escritório de ligação com o Congresso e o Conselho de Segurança Nacional, passando pela assessoria de comunicação e os vários escritórios de articulação com os ministérios e de interação com a sociedade.

A alta qualidade da agenda preparada pela Casa Branca foi elogiada pelos diplomatas brasileiros que acompanham o assessores do Planalto. A visita, acertada com a ajuda do embaixador dos EUA no Brasil, John Danilovich, depois da recente visita ao País da secretária de Estado, Condoleezza Rice, foi organizada pelo assessor sênior do conselho de segurança para a América Latina, Thomas Shannon.

Amanhã, os altos funcionários do Planalto ampliarão os contatos em conversas com membros da oposição que ocuparam posições-chave na administração de Bill Clinton: o ex-chefe de gabinete, John Podesta, e o ex-conselheiro de segurança nacional, Samuel "Sandy" Berger.

Esta é a segunda vez que representantes do governo Lula procuram aprender a arte de governar em Washington. Nos primeiro meses da administração, Bernardo Kucinski, da assessoria de comunicações do Planalto, passou alguns dias na capital americana para conhecer as operações de imprensa da Casa Branca. O relatório preparado por Kucinski ficou no papel, em parte por desavenças entre ele e o então secretário de imprensa, Ricardo Kotscho, e o porta-voz André Singer.

Uma curiosidade da missão de Swendenberger, Belchior e Ant é que ela é mais um exemplo de continuidade com o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, que a administração desta admitir: nos últimos meses de sua administração, Fernando Henrique mandou a Washington seu chefe de gabinete, Pedro Parente, a Washington, aprender como se faz transição de governo. O plano preparado por Parente a partir das informações que colheu na capital americana guiou a tranqüila operação de transferência do poder para o presidente Luiz Inácio Lula da Sila e contribuiu para projetar politicamente o chefe da equipe petista de transição, Antonio Palocci, hoje ministro da Fazenda e o membro mais importante do gabinete presidencial.