Título: Jefferson recua e fica com cargos no governo
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA O presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), mudou de idéia e não entregou ontem os cargos ocupados por afilhados políticos do partido, como havia prometido na véspera. Jefferson também anunciou a retirada do apoio de seu partido à criação de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar denúncias de corrupção nos Correios. Jefferson recuou depois de se reunir com os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que o convenceram de que a CPI poderia desestabilizar politicamente o governo e daria palco para a oposição. As assinaturas dos 13 deputados do PTB a favor da CPI dos Correios serão retiradas hoje pela manhã.

Para justificar sua mudança de idéia, o petebista alegou que o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho assumiu a inteira responsabilidade pela negociação de propina na empresa, inocentando-o de qualquer ligação com um suposto esquema de corrupção na ECT (mais informações sobre o depoimento de Marinho à Polícia Federal, ontem, na página A7). "Se ele (Marinho) retirou mesmo todas as acusações que há na fita publicada pela revista Veja, não tem motivo para ter CPI. Todos os 13 deputados do PTB que assinaram o pedido de CPI vão retirar o apoio", afirmou Jefferson. "O alvo da oposição com essa CPI não sou eu nem o PTB. O PTB é escada; o objetivo é o presidente Lula e o PT. Por que vou empurrar o governo nessa crise?"

PRESSÃO

A pressão do governo para que Jefferson voltasse atrás e retirasse o apoio à CPI aumentou durante o dia de ontem. Anteontem, os líderes dos partidos aliados tentaram convencê-lo a recuar, sem sucesso. Mas, depois do encontro com Aldo e Dirceu, ele chegou à sede do partido, acompanhado da mulher, Ana Lúcia Novaes, dizendo que estava com a "alma leve" e indicando que voltaria atrás. "Se ele (Marinho) me isentar, não tenho mais motivo para persistir na CPI", avisou Jefferson.

Ele ainda inocentou das acusações o Diretor de Administração dos Correios, Antônio Osório, chefe de Marinho. "O apelido dele nos Correios é marcha-à-ré. Ele não sabia de coisa nenhuma." Em sua avaliação, também não há motivo para investigação no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), sob comando de apadrinhados do PTB. Com a retirada do apoio do PTB à CPI, Jefferson está confiante de que a Comissão não será criada hoje. "Creio que o depoimento de Marinho enterra a CPI."