Título: Chávez ainda não se animou a fazer compras no Brasil
Autor: Roberto Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Nacional, p. A11

O carrinho de compras do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, no mercado internacional de equipamentos militares, ainda não parou no Brasil. Em fevereiro, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Caracas, Chávez anunciou a disposição de encomendar 24 turboélices Supertucano, 12 caças-bombardeiros AMX-T e os serviços de modernização dos Tucanos da primeira geração usados pela aviação venezuelana. Os blindados brasileiros do exército local também seriam tema de um programa de recuperação executado em Barueri. Só com a Embraer, o pacote de fornecimento implicaria faturamento estimado em US$ 450 milhões. Ou mais ainda: um mês depois, em março, Hugo Chávez consultava o amigo Lula sobre a possibilidade de envolver na negociação os jatos Emb-145/ISR, de inteligência, reconhecimento e vigilância - do mesmo tipo empregado pela Força Aérea Brasileira (FAB) na defesa da Amazônia.

"Até agora não houve nem mesmo uma troca de memorandos", comentava ontem à tarde em Brasília um experiente diplomata da área da promoção comercial. O negócio mais avançado - a compra, por US$ 260 milhões, dos AMX-T, de tecnologia atualizada - está parado desde novembro de 2002, à espera de um agente financiador. Em fevereiro o governo do Brasil disse que seria possível abrir uma linha de crédito junto ao BNDES. Ainda assim, nada aconteceu. Os fuzileiros navais e a brigada de operações especiais esperavam revisar e expandir a capacidade de 60 blindados Urutu EE-11, da extinta Engesa.

Enquanto isso, Chávez gastou cerca de US$ 1,3 bilhão de dólares na Espanha para encomendar 4 corvetas, 4 lanchas de patrulha costeira e mais 10 aviões C-295 para transporte de tropas. Formalizou o pedido de 16 helicópteros russos de ataque e carga leve. O lote total contratado é de 41 unidades.

A administração da Venezuela mantém em Moscou uma comissão de técnicos militares. Há oito dias o ministro da Defesa, Jorge Carnero, esteve com o grupo para assinar a aquisição de 100 mil fuzis Kalashnikov. Os primeiros 30 mil serão recebidos em outubro. A operação custou cerca de US$ 55 milhões. Uma linha de montagem da arma será instalada em uma cidade do interior da Venezuela onde está sendo montado um centro industrial-militar.

A comissão técnica vai permanecer em Moscou por um ano. Sua missão primária nesse período é receber treinamento na manutenção dos helicópteros e fuzis. A atribuição principal, entretanto, é negociar uma força de 50 caças supersônicos. O MiG-29SMT, que já foi testado na base de Maracay, a 90 km de Caracas, talvez seja substituído na discussão pelo poderoso Su-27, da Sukhoi, com abrangente sistema de armas. O programa de cooperação bilateral é da ordem de US$ 5 bilhões.