Título: Promotoria convoca assessor de Lula no caso Santo André
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Nacional, p. A12

O Ministério Público convocou Gilberto Carvalho, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para depor em procedimento de investigação criminal sobre suposto esquema de corrupção em Santo André. Os promotores do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado querem saber de Carvalho se ele tinha conhecimento sobre "ações efetivas" do prefeito Celso Daniel (PT) no combate a fraudes com recursos públicos. O que levou a promotoria a chamar o assessor especial é um dossiê de 80 páginas que a família de Daniel disse ter encontrado no apartamento onde ele morava, no centro de Santo André. Os papéis estavam acondicionados em um envelope branco com os dizeres, manuscritos: "Para Celso Daniel, da parte de Gilberto." Os promotores acreditam que Gilberto Carvalho é o remetente.

Os promotores também informaram que uma testemunha, com identidade sob sigilo, contou que Celso Daniel foi torturado para confessar onde estaria um dossiê sobre empresas que teriam sido beneficiadas por meio de contratos que violaram a Lei de Licitações.

Celso Daniel, que havia sido escalado pelo PT para coordenar a campanha de Lula à Presidência, foi seqüestrado e fuzilado em janeiro de 2002. A polícia concluiu que o prefeito foi vítima de "crime comum". Sete acusados estão presos. Os promotores estão convencidos de que Daniel foi eliminado porque teria tentado pôr um fim na atuação de "organização criminosa" em setores da administração municipal.

Carvalho foi secretário de comunicação de Daniel entre 1997 e 2000. Reeleito, Daniel nomeou Carvalho seu secretário de Governo. Os promotores acreditam que o ex-secretário municipal é o remetente do dossiê ao prefeito. Por isso, decidiram convidá-lo para depor. "Queremos saber se ele tinha informação sobre o esquema de corrupção de Santo André", disse o promotor Roberto Wider.

Inaugura o documento um texto redigido em computador, sem identificação do autor. "Estou mandando cópias das denúncias que tenho em mãos, mas ainda tenho medo. Por isso não vou aparecer. Também estou enviando ao promotor, ao jornal da cidade e PFL, PTB e PSD, que fez a ação." Dados pessoais e sobre o patrimônio do empresário Sérgio Gomes da Silva, apontado como mandante da morte de Daniel, constam do relatório. Sobre Gomes, diz um trecho: "Pessoa de inteira confiança do sr. Celso Daniel, seu motorista e segurança particular, tendo ocupado cargo em comissão no gabinete durante a administração anterior. Também ocupou o cargo de assessor parlamentar no gabinete do então deputado federal Celso Daniel."

Gomes ficou preso durante oito meses, em 2004, por ordem judicial, mas o Supremo Tribunal Federal acolheu pedido da defesa e mandou soltar o empresário, que nega envolvimento na corrupção e na morte de Celso Daniel.

O dossiê foi entregue ao Ministério Público dia 10, por uma cunhada da vítima, Marilena Nakano. Ela informou ter recebido os papéis de Maria Clélia, irmã de Celso Daniel.

PCC

O MP supõe ter reforçado evidências contra Gomes a partir do depoimento do presidiário José Felício, o Geleião, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC). Aos promotores Roberto Wider e Amaro Thomé, ele declarou que na época em que Daniel estava desaparecido recebeu ligação de Wladimir do Nascimento, o Mi, "afilhado do PCC" que lhe pediu para arrumar um cativeiro. Mi - que já morreu - teria dito que atendia a encomenda de Ivan Monstro, preso sob acusação de ter participado da execução.