Título: Uma capital sitiada, como em 84
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Nacional, p. A4

Desde as Diretas-Já a cidade não via tantos tanques e soldados

BRASÍLIA Desde a última semana de abril de 1984, quando o governo militar impôs o estado de emergência em Brasília, por causa da votação do projeto das Diretas-Já, a capital não via nas suas largas avenidas tantos tanques e soldados. Para a Cúpula América do Sul e Países Árabes, as ruas ganharam também trincheiras de arame farpado.

Dezenas de helicópteros patrulham os céus e até barcos de guerra foram ancorados no Lago Paranoá, perto do Blue Tree Hotel, onde os chefes de Estado e de governo das duas partes vão se encontrar. Nove mil homens das Forças Armadas e da Polícia Militar do Distrito Federal estão patrulhando as ruas.

De hoje até quinta-feira a vida tranqüila dos motoristas de Brasília - que costumam se deslocar sozinhos de casa para o trabalho - vai ser muito perturbada pelas barreiras montadas pela segurança do encontro e pela interdição de pistas. Em dias normais, o motorista pode atravessar a cidade de norte a sul e de leste a oeste em menos de 15 minutos. A partir de hoje, ele não poderá passar pelo Eixo Monumental (onde fica a Esplanada dos Ministérios) nem por vias próximas ao Centro de Convenções, que fica em frente do Estádio Mané Garrincha.

A previsão de caos é tão grande que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar hoje se decreta ou não ponto facultativo nas repartições públicas. Afinal, chegar até elas vai ser um sacrifício só.

ZONA DE EXCLUSÃO

O Comando da Aeronáutica informou que de hoje a sexta-feira Brasília será zona de exclusão aérea. Significa que pelos próximos dias o espaço aéreo da capital estará fechado para o vôo abaixo de 3 mil metros para todos os tipos de aeronaves. Também a partir de hoje caças F-5 e F-103 Mirage estarão de prontidão na Base Aérea de Anápolis, a 150 quilômetros ao sul de Brasília, com a missão de interceptar qualquer avião que invada a zona de exclusão.