Título: Empresários sul-americanos e árabes tentam superar comércio de US$ 10 bi
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Nacional, p. A4

Embaixador Mário Vilalva visitou Arábia Saudita, Catar, Egito e Omã para divulgar feira de negócios em Brasília

BRASÍLIA As duas iniciativas para a aproximação da América do Sul com o Mundo Árabe que podem, de fato, trazer resultados práticos começam hoje em Brasília, com o encontro de 826 empresários de ambas as regiões. O Encontro Empresarial e a Feira de Investimentos serão abertas pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, com o objetivo de atrair recursos dos países árabes exportadores de petróleo e de injetar dinamismo a um comércio que, em 2004, somou apenas US$ 10 bilhões - dos quais US$ 8,2 bilhões com o Brasil.

Dos 826 empresários inscritos, 190 são dos países árabes e 188 da América do Sul. Os brasileiros somam 448. Para animar empresários do Oriente Médio a comparecer ao encontro, o embaixador Mário Vilalva, diretor-geral do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, visitou quatro países entre fim de abril e início de maio - Arábia Saudita, Catar, Egito e Omã. Ele procurava, com especial atenção, executivos de bancos de investimento responsáveis pela alocação dos capitais.

Todo o cuidado foi tomado para que ajudar nos contatos diretos entre os participantes. Boa parte dos 140 tradutores para os quatro idiomas oficiais - árabe, espanhol, inglês e português - e secretárias estarão disponíveis para facilitar as conversas entre os empresários, em salas de reuniões especialmente equipadas para apresentações eletrônicas. Para atender ao costume árabe de negociar em ambientes menos austeros, foram montadas salas de estar no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, onde acontecerão as reuniões.

Na Feira de Investimentos - e não de produtos, como adverte Vilalva -, cada país terá direito a um estande de 25 metros quadrados para expor seus programas de atração e de destinação de capitais estrangeiros. Interessado no capital excedente de países árabes para bancar obras de infra-estrutura, o Brasil exporá as regras das parcerias público-privadas (PPPs), a legislação do País sobre investimentos e dados sobre o ambiente macroeconômico.

"Esse será o lado prático da construção de uma política nova, orientada para a aproximação dos agentes econômicos das duas regiões", afirmou Vilalva. Segundo ele, os negócios fechados desde o ano passado indicam que o Brasil pode ter, com essa aproximação, um bom potencial de ganhos.

A Líbia investiu cerca de US$ 450 milhões em projetos de irrigação no Nordeste. A companhia aérea saudita Saudi Airways fechou contrato de compra de 15 aviões da Embraer e sua concorrente dos Emirados Árabes, a Emirates, deve iniciar vôos diários São Paulo-Dubai ainda no fim deste ano. Além disso, a Odebrecht participa da construção do novo aeroporto de Doha, no Catar.

TRÊS ACORDOS

Três projetos orientados para a futura liberalização do comércio do Mercosul com países árabes devem ser encorpados, por meio de gestos políticos. Mas só devem ser assinados depois de encerrado o evento, possivelmente em julho, na reunião de cúpula do Mercosul. Dois deles são os acordos de redução de tarifas de importação de bens com Egito e Marrocos - algo ainda distante do livre comércio. O terceiro será um acordo geral com os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) - Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Omã - para dar consistência legal à futura negociação dos acertos comerciais.

Em paralelo aos encontros entre as delegações dos 34 países e dos empresários, foram programados festivais de cinema sul-americano e árabe, festivais de gastronomia peruana e marroquina, uma mostra de fotografias de profissionais sul-americanos e uma apresentação do Duo Assad, formado pelos violonistas paulistas Sérgio e Odair Assad, que será dedicada à música erudita das duas regiões.