Título: Furlan recebe indústria argentina
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Nacional, p. A4

Ministro vai ouvir reclamações sobre normas do Mercosul

Ariel Palacios Correspondente em BUENOS AIRES

"Os números não nos satisfazem." Esta foi a expressão usada pelo novo presidente da União Industrial Argentina (UIA), Héctor Méndez, sobre a relação comercial com o Brasil. Méndez anunciou que ele e outros integrantes da cúpula dessa organização - que experimenta declínio econômico, mas tem crescente influência no governo Néstor Kirchner - se reunirão hoje com o chanceler Celso Amorim, no Itamaraty. Às 17h30, terão encontro com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan. Fontes do setor empresarial ressaltaram que a cúpula dos países sul-americanos com os países árabes é secundária. O principal, afirmam, é a discussão com os empresários brasileiros e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para resolver os conflitos comerciais entre os dois países. Méndez advertiu que o grupo desembarca em Brasília com forte respaldo de Kirchner: "O governo colocou-se de nosso lado, pois viu que estávamos perdendo terreno".

O presidente da UIA, empresário do setor de plásticos, sustentou que os argentinos foram "tolerantes" com os brasileiros. "Durante muito tempo fomos tolerantes com a falta de cumprimento das normas do Mercosul e produziu-se um crescimento que não foi justo para alguns sócios." Embora decadente, a UIA tornou-se uma aliada do presidente Kirchner e dela partiu, desde fins dos anos 90, a maior parte dos pedidos protecionistas contra produtos brasileiros.

Em dezembro de 1999, a UIA fez grande alarde sobre o suposto êxodo de empresas argentinas para o Brasil. Dizia, então, dispor de relatório que listava mais de uma centena de empresas seduzidas pelos incentivos fiscais dos municípios e Estados brasileiros. O então governador de Buenos Aires, Carlos Ruckauf, chegou a chamar os governadores brasileiros de "corsários".

No entanto, em fevereiro de 2000, a UIA teve de admitir que o relatório não existia. A centena de empresas que teriam participado do suposto "êxodo" reduzia-se a apenas uma dúzia. De lá para cá, ela protagonizou diversos pataleos (esperneios) contra as constantes "invasões" de produtos made in Brazil. Nos últimos meses, voltou à carga, acusando o Brasil de propiciar "assimetrias" ou "desequilíbrios" comerciais. "Nossa intenção é fortalecer o Mercosul, mas não à custa de alguns membros", avisou.