Título: Protestos isolam La Paz e agravam crise boliviana
Autor: AFP, Reuters, AP e EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Internacional, p. A14

O clima político na Bolívia está cada vez mais tenso com os crescentes rumores de golpe e separatismo. Ontem, milhares de manifestantes romperam um cordão de isolamento de unidades antimotim da polícia e ocuparam uma praça no centro de La Paz, onde se localizam as sedes do governo e do Congresso da Bolívia. Uma multidão de aproximadamente 10 mil indígenas também bloqueia as principais estradas que dão acesso a La Paz. Um dos líderes dos protestos, o vereador Roberto de la Cruz, foi detido ontem à tarde por uma unidade especial da polícia. Esse foi o segundo dia da nova onda de protestos convocados por sindicatos e grupos indígenas bolivianos para exigir a nacionalização - sem indenização para as companhias estrangeiras - das fontes de gás e petróleo do país. Diante do avanço da multidão, que paralisou a principal cidade boliviana, a resposta da polícia foi imediata. Dispararam balas de borracha, lançaram bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água.

"Viemos a La Paz para fechar esse Congresso por que esses parlamentares não fazem nada por nós", disse um agricultor que marchou desde a região de Aroma, a cerca de 100 quilômetros de La Paz.

Na semana passada, o Congresso boliviano promulgou uma polêmica Lei de Hidrocarbonetos que manteve em 18% os royalties a serem pagos por companhias estrangeiras que exploram o petróleo e o gás boliviano e aumentou para 32% o imposto sobre a produção. A nova legislação levou a brasileira Petrobrás, uma das empresas petrolíferas que mais atuam na Bolívia, a revisar seus planos de investimento no país. Para os grupos indígenas, o aumento do imposto foi insuficiente. Defendem a nacionalização da exploração.

Os problemas do presidente Carlos Mesa não se resumem às manifestações dos indígenas. Políticos do rico Departamento (província) de Santa Cruz, no oeste do país, têm ampliado as reivindicações de autonomia e não poupam o presidente de críticas. Para alguns deles, Mesa tem feito muitas concessões aos sindicalistas e grupos indígenas. Em outro sinal de divisão da sociedade boliviana, os indígenas exigem a instalação de uma Assembléia Constituinte, rejeitada pelos grupos de Santa Cruz.

Numa dura advertência, as Forças Armadas da Bolívia emitiram na segunda-feira um comunicado exigindo que todas as partes respeitem a Constituição em vigor e mantenham a ordem pública. Por seu lado, o líder da Central Operária Boliviana (COB), Jaime Solares, defendeu uma intervenção militar, dizendo-se disposto a apoiar "um coronel ou general ao estilo do venezuelano Hugo Chávez".

Apesar do acirramento da crise, Mesa viajou para Sucre, a capital oficial do país, onde participou das celebrações do 196.º aniversário do primeiro grito de independência da América do Sul. Lá, assegurou que cumprirá seu mandato até o fim, em agosto de 2007.