Título: Carta: indecisos são esperança
Autor: Reali Júnior
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Internacional, p. A15

A apenas quatro dias do referendo francês sobre a adoção pela França da Constituição da União Européia, tudo indica que dificilmente poderá haver uma reversão de tendência a favor do "sim". As pesquisas de opinião pública continuam privilegiando o "não" - o voto contrário ao projeto constitucional europeu. Nenhum analista de política europeu, por mais otimista que seja, parece acreditar numa reação a favor da aprovação. Até mesmo os partidários do texto constitucional parecem conscientes de que caminham para a derrota - salvo surpresa de última hora em razão do número elevado de eleitores indecisos, ainda na faixa dos 15%. Não está afastada a hipótese de que essa parcela do eleitorado se abstenha de comparecer às urnas no domingo, tornando mais dura ainda a derrota dos partidários do "sim".

O ex-primeiro-ministro socialista Lionel Jospin e o próprio presidente Jacques Chirac procuram obter o apoio dos indecisos, comparecendo à televisão para convencê-los.

Uma nova pesquisa do grupo IFOP-Paris Match divulgada ontem aumentou a diferença favorável ao "não", que conta agora com 54% da preferência do eleitorado em comparação aos 46% dados ao "sim". Três quartos dos eleitores pesquisados manifestaram-se irredutíveis: não mudam de voto até domingo seja qual for o argumento usado em defesa do "sim".

Ontem, até a mulher do presidente da república, Bernadette Chirac, entrou na campanha eleitoral participando de manifestações pelo "sim".

Para agravar a insatisfação da opinião pública francesa, os organismos que acompanham o desempenho da economia francesa registraram uma queda nas estimativas oficiais de crescimento econômico. O Ministério da Economia havia previsto um crescimento entre 2 e 2,5%, mas os números divulgados são bem inferiores, apenas 1,4% de crescimento para este ano.

O ex-primeiro-ministro Lionel Jospin voltou a defender o "sim" na televisão, mesmo tendo se afastado oficialmente da vida política. Ele alertou o eleitorado de que a aprovação da Carta da União Européia pelos franceses vai evitar o isolamento da França na Europa e também que ela se torne politicamente mais frágil.

Jospin propôs aos franceses votar o texto constitucional e concentrar-se, depois, nas políticas fundamentais para o país, entre elas, os projetos sociais e de crescimento econômico. No entender do ex-primeiro-ministro, os partidários do "não" apresentam argumentos insustentáveis. Como exemplo, ele citou o dirigente da extrema-direita francesa, Jean-Marie Le Pen, que defende pura e simplesmente a saída da França da UE.