Título: Câmara ignora Bush sobre embriões
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/05/2005, Vida&, p. A17

Ignorando a ameaça de veto feita pelo presidente George W. Bush, parlamentares americanos votaram ontem a favor da expansão dos limites impostos ao financiamento de pesquisas com células-tronco embrionárias nos Estados Unidos. O projeto de lei foi aprovado pela Câmara dos Representantes por 238 a 194 - suficiente para passar adiante no Congresso, mas muito abaixo da maioria de dois terços necessária para impedir o veto presidencial. Bush disse que vetará a proposta. "Esse projeto nos colocaria além de uma linha ética crítica, ao criar incentivos para a corrente destruição de vida humana emergente", disse o presidente, antes mesmo da votação. "Cruzar essa linha seria um grande erro."

Defensores da pesquisa acreditam que as células-tronco embrionárias poderão, um dia, servir de base para o tratamento de uma série de doenças graves, assim como na recuperação de tecidos danificados. Para isso, elas precisam ser extraídas de um embrião de cinco a seis dias, que é destruído no processo. Opositores acreditam que esse embrião representa uma vida humana e não pode ser sacrificado para o benefício de outros. O líder da maioria na Câmara, Tom DeLay, disse que o projeto de lei forçaria os contribuintes a financiar "o desmembramento de seres humanos". Mas não convenceu muitos democratas.

A pesquisa com células-tronco embrionárias não é proibida nos EUA. Desde 2001, entretanto, o financiamento com recursos federais é limitado ao estudo de 78 linhagens celulares preexistentes a 9 de agosto daquele ano. A decisão limita o avanço das pesquisas nessa área, já que a maior parte da produção científica pública nos EUA depende de verbas federais.

A nova legislação, apresentada pelo republicano Mike Castle e a democrata Diana DeGette, acaba com a data-limite de Bush. O projeto permite que recursos federais sejam aplicados em pesquisas com células-tronco derivadas de embriões humanos criados em clínicas de fertilidade e que, de outra forma, seriam descartados. Algo bem semelhante ao que foi recentemente aprovado no Brasil.

Um projeto alternativo das lideranças republicanas, propondo o financiamento de pesquisas com células-tronco adultas e derivadas do cordão umbilical, também passou por 430 votos a 1, mas não impediu a aprovação do texto sobre células embrionárias. Apoiar apenas uma das leis, segundo a democrata Sherrod Brown, seria "oferecer esperança a alguns e simpatia aos outros".