Título: Esquerda do PT busca candidato contra Genoino
Autor: Ana Paula Scinocca e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2005, Nacional, p. A6

Dissidentes, que têm 30% dos votos no partido, aproveitam eleição de setembro para pedir mudanças na política econômica

A esquerda do PT deve decidir hoje se lança candidatura única para a disputa do processo de eleição direta, por meio do qual serão escolhidos os novos presidentes do partido. Pelo menos 13 correntes, entre elas a Democracia Socialista e a Articulação de Esquerda, vão participar de reunião na sede do PT, em São Paulo. Unida ou não, a ala radical, que prega mudanças na política econômica do governo, vai enfrentar José Genoino, do Campo Majoritário (60% das cadeiras do diretório nacional), e Maria do Rosário, do Movimento PT - tendência de centro (10% das cadeiras), da qual faz parte Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara. "A possibilidade de haver chapa única das esquerdas é praticamente nula", diz um integrante da Articulação, que sexta-feira oficializou a candidatura de Valter Pomar, terceiro vice-presidente nacional do PT. "A hipótese é remota", admitiu Raul Pont, escolhido pela Democracia para o embate com Genoino e Rosário, que será realizado em setembro.

PACTO

Um terceiro candidato da esquerda à presidência do PT, Plínio de Arruda Sampaio, será lançado esta semana pela Ação Popular Socialista, do deputado Ivan Valente (SP), com apoio das correntes Fórum Socialista e Trabalho. Os radicais fizeram pacto de não agressão. Eles reconhecem que a desunião das tendências se dá mais por necessidade de auto-afirmação do que por causa de divergências pragmáticas. Muitas correntes têm perdido militantes desde a posse do presidente Lula, em janeiro de 2003.

Na reunião de hoje, cada tendência vai apresentar seu nome e apreciar a proposta de chapa única. "Isso (candidatura única) é pouco provável", avalia Pomar. "Teoricamente essa posição pode ser alterada, mas é difícil que isso ocorra." Para o candidato da Articulação, o fato de haver muitas candidaturas não fragiliza a esquerda. "Do ponto de vista eleitoral isso não neutraliza (os radicais), interessa que haja mais candidaturas na medida em que expressam opiniões distintas."

"As três candidaturas atraem ao processo de eleição número de filiados maior do que se houvesse uma", calcula Pomar. A meta é neutralizar o maior rival. Pomar considera que Rosário "tende a atrair votos do Genoino e isso aumenta as chances de um segundo turno, reduzindo a força do Campo Majoritário."

Na "Carta aos Petistas", a direção nacional da Articulação de Esquerda São Paulo destaca que a mídia terá influência no processo. "Da mesma forma que a mídia pode tentar folclorizar a esquerda petista, também pode ser forçada a abrir espaço para os debates, tirando nossas posições da semiclandestinidade."

Os radicais falam do empresariado. " Não está claro se conseguiremos impedir a influência do empresariado, evitando que ocorra, como em 2001, enorme desigualdade de recurso entre as candidaturas e chapas."