Título: CPI é palanque eleitoral, desabafa Lula com o presidente de Portugal
Autor: Denise Chrispim Marin e João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Espaço Aberto, p. A4

TÓQUIO - A instalação da CPI dos Correios pelo Congresso, segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se deve a uma antecipação do processo eleitoral de 2006, que já estaria em curso. Essa primeira manifestação do presidente sobre a crise política detonada pela denúncia de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) foi dirigida ao presidente de Portugal, Jorge Sampaio, conforme relatou o governador Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul, espectador do encontro entre os dois, em Tóquio. "O presidente deu a entender que a CPI pode virar um palco eleitoral. Essa é a minha interpretação", disse Rigotto. Em discurso de encerramento de um seminário de empresários brasileiros e japoneses, Lula atacou "as pessoas que não conseguem pensar para 20 ou 30 anos e só conseguem pensar de eleição para eleição". Aproveitou para enfatizar que "não haverá anúncios mirabolantes" ou "surpresas" na condução da política macroeconômica por conta da antecipação da corrida eleitoral. "Não é possível e não é justo que um homem, por mais importante que seja, possa colocar os seus interesses pessoais acima dos interesses de uma Nação, que ele esteja mais preocupado com o seu futuro que com o futuro da Nação", afirmou o presidente, em referência indireta ao comportamento da oposição e de integrantes de partidos aliados que, na visão do governo, dispararam o processo eleitoral ao aprovarem a CPI.

Segundo o governador gaúcho, foi Lula quem tomou a iniciativa de mencionar a instalação da CPI na conversa com Jorge Sampaio. O presidente tratou de explicar também ao colega português que havia determinado a investigação da denúncia de corrupção na ECT pela Polícia Federal, mas, assim mesmo, o Congresso aprovara a comissão. Na encontro com Sampaio, ao manifestar a preocupação de que o processo de investigação se converta em palanque eleitoral, Lula também fez questão de ressaltar que a CPI não deverá afetar os rumos da política econômica. Aproveitou para fazer uma referência aos bons indicadores alcançados pelo País no primeiro quadrimestre do ano.

Ao falar aos empresários brasileiros e japoneses reunidos no seminário sobre oportunidades de comércio e de investimentos, o presidente Lula argumentou de forma veemente que o crescimento de 5,2%, no ano passado e os resultados positivos nas contas públicas não são "milagres", mas o resultado da "determinação política, da força de vontade e do compromisso com o futuro do País". "Por isso, não brincamos em se tratando de política econômica. Não tomaremos nenhuma atitude que possa tornar vulnerável a economia brasileira e nem tampouco nenhuma medida populista, que muitas vezes serve para eleger um candidato, mas que afunda o Brasil em anos e anos de recessão", completou, sob aplausos da platéia.

Ao referir-se à superação da barreira dos US$ 100 bilhões de exportações, voltou à carga contra os setores oposicionistas que se mostravam céticos com esse desempenho. "Muita gente acreditava que não era possível porque, lamentavelmente, no meu País há muita gente que, embora tenha cargo importante, pensa pequeno, não pensa grande e não dá a dimensão de grandeza para o que o Brasil representa hoje", afirmou. "Hoje estamos com US$ 105 bilhões", arrematou o presidente, no discurso feito de improviso. Nos quatro dias anteriores, ele tivera o cuidado de ler seus pronunciamentos.