Título: Gabeira e Suplicy se unem contra cargos e favores
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Nacional, p. A6

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) acertou ontem com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) que ambos lançarão, semana que vem, em Brasília, uma campanha para agilizar a tramitação de vários projetos que propõem a reforma da alta burocracia brasileira e a redução de cargos em comissão. Gabeira disse ontem ao Estado que acha fundamental "fechar as portas da corrupção no serviço público" e que a redução drástica dos cargos em comissão vai esvaziar as trocas de favores entre o Executivo e o Legislativo. Segundo o deputado, nem será preciso apresentar projetos novos para aprovar a redução dos cargos em comissão: no Congresso existem inúmeros projetos, há tempos engavetados, que propõem essa redução. "Vou propor uma frente política multipartidária para reduzir as margens de manobra da grande corrupção política", disse ontem Gabeira. A idéia é impor uma mudança à estrutura funcional do serviço público, de forma que a grande maioria dos cargos de direção e chefia seja ocupada por funcionários concursados.

Com isso, espera Gabeira, será possível sepultar a tentação que sucessivos governos sofrem, de conquistar maior apoio no Congresso mediante a cooptação de parlamentares pela indicação de ocupantes de cargos em comissão. "Esta é a verdadeira fonte da grande corrupção pública", disse ontem Gabeira, explicando que a corrupção governamental praticada por indicados de políticos é mais perigosa que a corrupção feita por funcionários de carreira porque a sua apuração cria impasses políticos e institucionais.

SUPLICY

Gabeira disse ontem a Suplicy que as portas do PV estão abertas para ele, caso venha a ser punido pelo PT por ter assinado a CPI dos Correios. "Suplicy é um grande nome da política brasileira e tem estatura para disputar até a Presidência da República. O PV se sentiria honrado se ele viesse para nós", explicou mais tarde Gabeira. Suplicy agradeceu ao convite, disse Gabeira, mas afirmou que o PT é seu partido "para a vida inteira".

Gabeira disse que ainda não conseguiu entender o desconcerto do governo com a CPI dos Correios. "Eu, que conheço os meandros e sentimentos do PT, vou fazer um discurso terça-feira para explicar o que tem levado o governo a cometer um erro atrás do outro nesse caso dos Correios. Primeiro, tentaram desesperadamente impedir a CPI; depois, ameaçaram agressivamente punir quem a apoiasse; em seguida, planejaram sabotá-la; por último, admitem que, se não conseguirem êxito, vão tentar dominar a CPI", afirmou.

Segundo ele, "tudo o que o governo tem conseguido é passar a mensagem de que está apavorado com a CPI": "E isso não é bom, porque reforça a suspeita de que o deputado Roberto Jefferson tinha razões específicas quando disse claramente que não sentaria sozinho no banco dos réus", disse.

Para ele, no entanto, o êxito da CPI não estará na performance dos seus integrantes, mas no papel investigativo e revelador da imprensa. "Já acompanhei muitas CPIs em Brasília e aprendi que quem determina seu êxito é a imprensa, não seus deputados".