Título: Presidente da OAB pede 'faxina moral' no governo
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, defendeu ontem a instalação da CPI dos Correios e se queixou do crescente acúmulo de denúncias de corrupção. É necessário, segundo ele, fazer uma "faxina moral nas instituições" e realizar uma ampla reforma política. "Não espanta se amanhã vierem a propor a criação de cotas para roubalheira, conforme noticiou a imprensa esta semana em Brasília, até mesmo a instalação de uma quadrilha nos quadros de serviços públicos, visando à formação de um verdadeiro bando para pilhar o erário", disse ele, durante uma reunião de advogados em Florianópolis. "Cada partido teria direito a um naco do dinheiro público, de acordo com a dimensão de suas bancadas ou a influência de seus líderes."

Segundo o presidente da OAB, a resistência do governo à instalação da CPI provoca surpresa. "A sociedade assiste com perplexidade ao recorrente argumento federal de que a instalação de uma CPI para investigar denúncia de roubo do dinheiro público conspira contra a economia e a governabilidade", declarou. "O que conspira contra ambas é a institucionalização da rapina como prática política." A crise enfrentada pelo governo, de acordo com Roberto Busato, aumenta a desconfiança da população em relação aos políticos.

O presidente da OAB avaliou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa mudar profundamente os rumos de seu governo e basear-se nos motivos pelos quais ele foi eleito. Disse ainda que a corrupção é um problema endêmico, que não é combatido com eficácia, mas varrido para debaixo do tapete.

Para Busato, o governo deveria fazer uma seleção mais rigorosa das pessoas com quem vai trabalhar. Citou o exemplo do ministro da Previdência, Romero Jucá, que é investigado em inquérito aberto recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por suposto envolvimento com irregularidades na aplicação de recursos emprestados pelo Banco da Amazônia (Basa) ao abatedouro de frangos Frangonorte, do qual ele era sócio.

REFÉM

Ele afirmou que o País entrou num período de "pré-falência" do modelo de representação política: "Cada governante, não importa as boas intenções com que chega ao poder, torna-se rapidamente preso e refém da necessidade de construir maioria parlamentar." Busato lembrou que antes de qualquer decisão importante no Congresso ocorrem barganhas em troca de votos. "Nada disso é novo, mas chegamos a um grau em que não é mais possível fingir que nada acontece", afirmou o presidente da OAB.

"Nesse sistema, cada votação é precedida de negociações em busca de apoio, onde a moeda de troca são os cargos da administração pública, exposta à sanha dos abutres do dinheiro público", completou Busato.