Título: Lula traça plano para tirar palanque da oposição
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os ministros que integram o seu conselho político, mais os líderes do governo na Câmara e no Senado, vão buscar, em reunião no Palácio do Planalto, formas de evitar que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios se transforme em um palanque aberto para os partidos de oposição. O encontro, que havia sido marcado para hoje de manhã, foi adiado ontem à noite, segundo o porta-voz da Presidência, André Singer, porque, antes de se reunir com os ministros, Lula deseja pôr em dia assuntos administrativos que aguardavam sua volta da viagem de uma semana à Coréia e ao Japão. Segundo Singer, a reunião pode ocorrer ainda hoje. A CPI foi aberta na semana passada, com a ajuda de 14 deputados e um senador do PT - Eduardo Suplicy (SP) - que se recusaram a atender aos apelos do governo para que retirassem as assinaturas de apoio à comissão que vai investigar denúncias de irregularidades nos Correios.

Lula, que retornou ontem do Japão, telefonou na sexta-feira para seus ministros mais próximos - José Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo (Coordenação Política), Luiz Dulci (Secretaria-geral da Presidência) e Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento) - para convocá-los à reunião, destinada especificamente a debater a CPI.

O ministro Antonio Palocci (Fazenda), que também integra o chamado "núcleo duro", acompanhou o presidente na viagem. Mostrando irritação toda vez que lhe perguntavam sobre a CPI, Lula deu a Palocci a incumbência de falar com os jornalistas a respeito da reação do governo à iniciativa dos partidos de oposição.

Segundo informações de assessores, Lula deverá, ele mesmo, assumir o papel de coordenador da base de apoio, depois que a dobradinha Aldo/Dirceu não conseguiu impedir que a CPI fosse aberta.

Ao fim de um esforço como há muito não se via, o grupo acabou por fracassar, sem conseguir dobrar nem sequer o PT, que, com as 14 assinaturas rebeldes na Câmara, acabou garantindo a CPI. Mas, apesar do fracasso, os líderes trabalharam e sofreram juntos, o que pode significar que daqui por diante se entenderão melhor.

No governo ocorreu fenômeno semelhante. Os ministros Aldo e Dirceu, que sempre viveram às turras, passaram a quarta-feira reunidos, agarrados ao telefone e à procura de parlamentares que pudessem retirar as assinaturas. Quando encontravam pela frente nomes do baixo clero, Dirceu pedia a Aldo que lhes telefonasse, admitindo com humildade que não os conhecia. Quando foi preciso falar com a deputada Luci Choinacki, Dirceu lembrou a Aldo que a parlamentar não fala com ele. O jeito foi pedir ajuda a João Pedro Stédile, líder do MST, ao qual Luci é ligada. Funcionou: um telefonema de Stédile bastou para ela retirasse o apoio à CPI dos Correios.