Título: Vale até Waldomiro para contra-atacar José Dirceu
Autor: Ligia Formenti e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Nacional, p. A9

BRASÍLIA - Parlamentares do PT que assinaram o requerimento de instalação da CPI dos Correios partiram para o confronto com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que, anteontem, sugeriu que o grupo saísse do partido. "Não é porque ele errou na escolha de seus assessores, como foi o caso de Waldomiro Diniz, e que trouxe problemas com o arco de alianças que ele formou, que eu vou dizer que ele tem de sair do PT", reagiu o deputado Chico Alencar (RJ).

Alencar afirmou que Dirceu devia se preocupar com "certos aliados que geram instabilidade para o governo". O deputado disse ainda que, se Dirceu quiser que o grupo de petistas signatários da CPI saia do partido, que mova uma processo de expulsão no PT. "Ele deve se preocupar em requalificar a base aliada e fazer o governo avançar. Quem atrapalha o caminho bom do governo seguramente não somos nós", disse Alencar.

Na mesma linha de indignação, o deputado Walter Pinheiro (BA) considerou que Dirceu comete "o absurdo dos absurdos" ao querer transferir a responsabilidade do desgaste político do governo para o grupo petista que apoiou a CPI. "A estratégia é mudar o eixo. A responsabilidade não é mais do escândalo dos Correios, não é mais do envolvimento de um deputado citado na fita, mas dos petistas que assinaram a CPI", disse Pinheiro. "Eu quero apurar as denúncias e, por isso, tenho de ser punido? Fala sério!", reagiu.

A reação mais amena ao movimento de José Dirceu coube ao senador Eduardo Suplicy. Ele afirmou que, nos próximos dias irá conversar pessoalmente com o ministro para explicar os motivos que o levaram a assinar o requerimento. "Eu fiz aquilo porque acredito que isso vá ajudar o presidente Lula. O ministro sabe que defendo o governo Lula", disse Suplicy. O senador afirmou não ter se incomodado nem mesmo com o fato de ter sido classificado como "estranho" por Dirceu. "Achei um elogio." A calma de Suplicy não se repetiu entre demais deputados. Todos criticaram de forma enfática a atitude de Dirceu que, para eles, é típica de quem se acha dono do partido.

"Fui eleita com 99 mil votos. Não abro mão da minha representatividade. O partido é um espaço de debate, não a ditadura de um só pensamento. Esse tempo já passou", reagiu a deputada Maninha (DF).

O deputado Ivan Valente (SP), da ultra-esquerda petista, disse que "José Dirceu está agindo como dono do partido, coisa que ele não é. Esse grupo todo: José Dirceu, Chinaglia, Genoino, precisa parar de dizer que nós fazemos oposição".

Eles é que agem de forma oposta à história, a trajetória e ao programa do PT." Valente e Maninha são categóricos ao afirmar que o Diretório Nacional do PT, em nenhum momento, determinou que parlamentares do partido retirassem a assinatura do pedido de abertura de CPI. "O ministro José Dirceu está reagindo como governo. Mas ele tem de lembrar que há instâncias partidárias independentes, que ele não pode interferir", afirmou Maninha.

Os deputados recusam o carimbo de "grupo dissidente". Eles lembram que, na maior parte das votações, agiram de acordo com a recomendação do partido. Também foram unânimes ao afirmar que o governo errou feio ao tentar impedir a criação da CPI. Para o deputado João Alfredo (CE), a estratégia trouxe desnecessariamente a crise para dentro do governo. Tal erro, afirmam os deputados tem explicação clara: "O governo virou refém da política de alianças, que nenhum resultado positivo trouxe". Como exemplo, Alfredo citou as três últimas grandes derrotas sofridas pelo governo, em três meses: eleição de Severino Cavalcanti, a derrota na indicação do Conselho Nacional de Justiça e do Tribunal de Contas da União.