Título: Testemunha do caso Santo André reforça suspeita contra empresário
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2005, Nacional, p. A6

O Ministério Público Estadual anunciou ter localizado uma testemunha, cuja identidade é mantida em sigilo, que pode reforçar as suspeitas sobre o suposto envolvimento do empresário Sérgio Gomes da Silva no seqüestro e morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT). A testemunha é um presidiário que manteve contatos com o grupo acusado de ter capturado Celso Daniel na noite de 18 de janeiro de 2002. Processado sob acusação de homicídio, o preso declarou que o seqüestrador Dionísio Feitosa comandou a ação e retirou uma bolsa com US$ 40 mil da Pajero onde estava o prefeito. Ele disse que Dionísio revelou que o empresário "facilitou a ação".

Dionísio havia sido resgatado de helicóptero da Penitenciária de Guarulhos dias antes do seqüestro de Celso Daniel. Quatro meses depois da morte do prefeito, Dionísio foi executado no Centro de Detenção Provisória do Belém. Ele teria discutido com José Edson Rodrigues, formalmente denunciado pelo Ministério Público como um dos executores do prefeito.

Segundo o Ministério Público, a morte de Dionísio ocorreu dois dias depois que ele disse ao delegado Romeu Tuma Júnior que tinha "importantes informações" sobre o assassinato de Celso Daniel - caso emblemático que levou a promotoria a descobrir atuação de "organização criminosa estável" para arrecadação de propinas em setores da administração municipal. Parte do dinheiro da corrupção seria destinada ao financiamento de campanhas eleitorais do PT.

Para o promotor de Justiça Amaro Thomé Filho, o relato da testemunha derruba a versão dos 7 réus no processo sobre a morte de Celso Daniel, presos como executores do crime - o oitavo acusado é Sérgio Gomes da Silva, denunciado como mandante. Eles afirmaram à polícia que seqüestraram o prefeito casualmente porque não conseguiram alcançar uma outra vítima, um empresário do Ceagesp.

"O grupo sabia que o alvo era o Celso Daniel", sustenta o promotor. "Eles sabiam que o prefeito ia ser seqüestrado naquela noite." De acordo com a testemunha, um pouco antes do ataque ao prefeito, todos se reuniram e Dionísio os orientou: "Vai ser tudo encenado, o motorista da Pajero vai facilitar." Dionísio também teria dito aos parceiros: "É para dar uns tiros no carro e pegar o passageiro."

O motorista do carro em que estava Celso Daniel era o empresário Sérgio Gomes. Eles haviam jantado em um restaurante em São Paulo e retornavam a Santo André, quando foram cercados. Os promotores criminais sustentam que Celso Daniel havia decidido dar um fim no esquema de corrupção. Por isso, foi eliminado. O corpo do prefeito foi encontrado no dia 20, um domingo, em uma estrada de terra no município de Juquitiba. Segundo Amaro Thomé, a bolsa com US$ 40 mil foi deixada por Sérgio Gomes como "pagamento pelo serviço".

"Temos informações de que Celso Daniel, ainda no cativeiro, foi torturado para entregar um dossiê sobre empresas favorecidas em licitações fraudulentas", afirma Thomé. Cópia do relato da testemunha será juntada ao processo sobre a morte de Celso Daniel, no Fórum de Itapecerica da Serra. O nome do preso está sendo preservado com base no provimento 32 da Corregedoria-Geral de Justiça.

Os promotores ouviram o depoimento de outro preso, José Márcio Felício, o Geleião, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele declarou ter tido contato com integrantes do grupo que atacou o prefeito. Os promotores aguardam para hoje o depoimento de Gilberto Carvalho, assessor especial do presidente Lula. Carvalho foi convidado para depor sobre um dossiê de 80 páginas que ele teria enviado a Celso Daniel. O dossiê foi entregue no último dia 10 ao Ministério Público por familiares de Daniel, que tinha sido escalado pelo PT para coordenar a campanha de Lula à Presidência.