Título: Líderes temem os franceses
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Internacional, p. A12

BRUXELAS - Se os franceses rejeitarem a Constituição européia no referendo de amanhã, e os holandeses fizerem o mesmo três dias depois, será a última e de longe a mais dramática rejeição de grandes projetos europeus pelo povo. Será também muito difícil para os líderes europeus ignorá-la. Em referendos anteriores, os eleitores ou disseram "não", ou mostraram um apoio de má vontade a tratados que promoviam a integração européia.

Os dois únicos países que tiveram um referendo sobre a adesão ao euro a rejeitaram - Dinamarca em 2000 e Suécia em 2003. Em ambos os casos, os tratados foram rapidamente reapresentados - com modificações mínimas, até que o resultado certo fosse alcançado. Mas nunca um membro fundador, para não dizer a França, o motor da integração, havia rejeitado um tratado da UE. E se os holandeses, sabidamente pró-UE, votarem "nee", a Constituição terá sido rejeitada por dois membros fundadores da UE, causando uma crise sem precedentes com um desfecho imprevisível.

Charles Grant, diretor do Centro para a Reforma Européia, disse: "Poderá ser um ponto de virada absolutamente histórico. Poderá assinalar o fim de 20 anos de integração, de uma ampliação e aprofundamento ainda maior." Mas mesmo que os povos mais eurófilos da Europa digam "basta", o mais provável é que a elite política continuará insistindo em que tudo continua como antes.

Em Bruxelas e algumas capitais nacionais, autoridades estão estudando maneiras de contornar a votação pelo "não" e continuar avançando para uma união ainda mais estreita. O primeiro plano é encontrar uma maneira de contornar as rejeições francesa e holandesa, e ratificar o pacto de qualquer forma - seja renegociando o tratado, seja reapresentando-o para uma segunda votação.

Depois da divulgação do resultado francês, domingo à noite, Jean-Claude Juncker, o primeiro-ministro de Luxemburgo que ocupa a presidência rotativa da UE, e José Manuel Barroso, o presidente da Comissão Européia, pretendem ir ao pódio na sede da Comissão em Bruxelas para estabelecer o curso a seguir.

Juncker declarará que o processo de ratificação deve continuar e países como a Grã-Bretanha não devem abandonar seus referendos. Barroso declarará que o trabalho da Comissão prosseguirá normalmente.

Juncker insistiu nesta semana: "Os países que disserem não terão que se fazer a pergunta de novo." Jo Leinen, presidente da Comissão para Assuntos Constitucionais do Parlamento Europeu, disse: "Mesmo que os dois países digam não, está claro que o processo de ratificação deve continuar."