Título: Falta no referendo a opção 'não sei'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Internacional, p. A12

PARIS - Maio é normalmente um mês tranqüilo na França. Num bom ano, os franceses passam tanto tempo em suas casas de campo ou na praia quanto no trabalho. Este ano, no entanto, o 1.º de Maio e o Dia da Libertação (8 de maio) caíram em domingos. Além disso, o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin anunciou aos trabalhadores que eles perderiam o outro fim de semana prolongado. Eles tiveram de trabalhar na segunda-feira de Pentecostes, dia 16, para que os empregadores pudessem doar 0,3% dos salários para os idosos. Coroando tudo isso, os políticos na Assembléia Nacional votaram para dar a si mesmos uma folga naquele dia. No momento, Raffarin não seria menos popular se tivesse banido o tabaco, as roupas íntimas e as praias de nudismo. E este é um dos líderes da campanha do 'oui' no referendo de domingo sobre a Constituição européia.

Esses podem não ser argumentos racionais,

* Stephen Clarke, escritor, fez este artigo para 'The New York Times'. mas a campanha do referendo foi, desde o início, irracional. Votem 'sim', dizem Raffarin e o presidente Jacques Chirac, ou a União Européia vai desmoronar. Uma hábil reformulação do antigo temor dos gauleses de que o céu caísse sobre suas cabeças.

Votem 'não', dizem os sindicatos e a extrema direita (numa rara - e constrangedora - unidade), ou na segunda-feira seus empregos serão roubados por hordas de invasores poloneses. O protecionismo e o racismo de mãos dadas.

Em qualquer caso, pede-se aos franceses que votem sobre algo que não podem compreender. O lobby do 'sim' enviou o texto da Constituição para todos os eleitores franceses, mas isso foi tão produtivo quanto tentar vender maiôs com Chirac e Raffarin como modelos.

Isso explica por que eu gostaria de ver um terceiro item na cédula de votação. Façamos um verdadeiro teste de opinião acrescentando, ao lado do 'oui' e do 'non', a opção 'je ne sais pas'.