Título: O 'sim' reage na França, mas...
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Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Internacional, p. A12

PARIS - A rejeição dos franceses à Constituição da União Européia a dois dias do referendo nacional teve queda de 3 pontos porcentuais, enquanto a aprovação subiu 3. É o que revela a última pesquisa de opinião pública, do Instituto CSA, divulgada ontem - dia seguinte ao pronunciamento do presidente Jacques Chirac. O "não" caiu para 52% e o "sim" subiu para 48%. Um dia antes da solene defesa da Carta européia por Chirac em rede nacional de televisão, o não tinha 55% da preferência do eleitorado francês e o sim, 45%.

Chirac pediu aos franceses um "voto responsável" - que não fizessem de um referendo decisivo para o futuro de toda a UE um plebiscito sobre o governo.

Apesar do significativo resultado da consulta popular feita pelo CSA, que pode ser interpretado como empate técnico, os analistas não acreditam numa reversão da tendência de rejeição verificada nas últimas semanas. Para eles, os franceses vão mesmo rechaçar o texto.

Contudo, os partidários do sim recusam-se a jogar a toalha. Eles apostavam ontem no apoio explícito de vários líderes europeus, incluindo o chanceler alemão, Gerhard Schroeder, e o primeiro-ministro espanhol, Luis Rodríguez Zapatero. Ambos participaram ativamente ontem da campanha francesa pelo sim.

Schroeder percorreu o sul da França com um trunfo. Horas antes de ele chegar a Toulouse para um pronunciamento, o Bundesrat (Câmara de Representantes dos 16 Estados alemães ) aprovou por 15 votos e uma abstenção a Carta européia, que já havia sido ratificada pelo Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento). Absteve-se o representante do Estado de Mecklemburgo-Antepomerânia. A votação quase unânime foi uma importante sinalização para o eleitorado francês.

Chirac enviou mensagem de felicitação a Schroeder. "Quero saudá-lo pelo fato de a Alemanha, na véspera do referendo francês, emitir um sinal tão especial e simbólico", destacou o líder francês.

Em Lille, no norte francês, Zapatero foi recebido com abraços, aplausos e olés. "Peço um sim à Constituição em nome da Espanha e da esquerda. Dessa forma, faremos a Europa avançar", disse ele, para concluir: "Só existem dois caminhos - o da paz, progresso e solidariedade; e o que deixa o continente em ponto morto."

Outra consulta que preocupa a UE ocorrerá na Holanda três dias depois do referendo francês. A vitória do não ali é tida como certa: 60% dos holandeses rejeitam a Carta, temendo perder direitos adquiridos, como casamento de homossexuais e eutanásia. Contudo, o referendo holandês não tem força de lei. Mas muitos membros do Parlamento já manifestaram intenção de levar em conta o desejo do eleitorado quando forem chamados a ratificar a Carta européia.