Título: Exército da Bolívia afasta militares que se rebelaram
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2005, Internacional, p. A14

LA PAZ - Os dois tenentes-coronéis que na quarta-feira foram à TV para pedir a saída do governo do presidente boliviano, Carlos Mesa, e o fechamento do Congresso foram ontem afastados do Exército por decisão do alto comando. Julio Herrera e Julio César Galindo, que após o pronunciamento declararam que passariam à clandestinidade, não se manifestaram sobre a punição estabelecida pelo Tribunal de Pessoal do Comando-Geral do Exército. O diário boliviano La Razón observou que, embora a decisão do tribunal seja definitiva, a punição imposta aos dois militares foi menos drástica do que se esperava. Embora sejam forçados a deixar o serviço da ativa, segundo o jornal eles não serão detidos pelos delitos de sedição e rebeldia.

Herrera, com Galindo ao lado, difundiu na TV a proclamação de um grupo de oficiais e suboficiais jovens autodenominado Movimento Militar Geracional que teria "um plano de governo bem estruturado" para superar a atual crise política boliviana.

Após a trégua da véspera, anunciada pelos líderes indígenas e sindicais em respeito ao feriado religioso de Corpus Christi, manifestantes voltaram ontem a bloquear as principais estradas que ligam La Paz a outros pontos da Bolívia. Os manifestantes exigem a estatização radical das jazidas e da produção de gás e petróleo, a instalação de uma Assembléia Constituinte, o fechamento do Congresso e a renúncia de Mesa.

Os dirigentes políticos e sindicais da região de La Paz e de outros departamentos (províncias) do Altiplano Boliviano também se opõem à implementação de regimes autônomos em quatro departamentos da planície: Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando. À revelia do Congresso e do Executivo, essas quatro regiões convocaram para agosto um plebiscito sobre autonomia.

Também ontem, uma pesquisa do instituto privado Opinión, Apoyo e Mercadeo Bolivia mostrou que a popularidade de Mesa está no nível mais baixo desde que chegou ao poder, em 2003. Segundo o estudo, 44% dos bolivianos apóiam o presidente. Em novembro de 2003, ele tinha 82% de popularidade. Em termos regionais, o apoio a Mesa mantém-se num nível razoável. No vizinho Peru, o presidente Alejandro Toledo sobrevive no poder com popularidade abaixo dos 10%. Na Colômbia, o presidente Álvaro Uribe sustenta um dos mais altos níveis de aprovação da América do Sul, com 70% de popularidade.