Título: Dólar em queda já derruba preços
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2005, Economia, p. B1

Começa a se delinear no mercado um movimento de baixa de preços dos equipamentos eletroeletrônicos, de informática e celulares por conta do recuo do dólar. A iniciativa de cortar preços é de fabricantes que conseguem renegociar contratos de fornecimento de componentes importados com desconto. O impacto nos indicadores da inflação ao consumidor ainda é pequeno, mas notável em alguns produtos. Na coleta de preços para o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) da terceira quadrissemana deste mês, o telefone celular ficou 25,03% mais em conta na comparação com os últimos 30 dias. Em geral, a queda de preços para equipamentos de informática e de telecomunicações foi de 15,64% no período, segundo o IPC-Fipe.

O movimento de corte é encabeçado por grandes fabricantes. A LG, por exemplo, renegocia redução de preços com fornecedores nacionais e estrangeiros de componentes e outros insumos para as linhas de áudio e vídeo. Segundo o diretor comercial da companhia, Breno Marcelino da Silva, a partir de junho os produtos da marca estarão nas lojas entre 3,5% e 4% mais baratos.

Silva diz que o forte argumento usado em conversas com fornecedores para rever preços é a redução da cotação do dólar em cerca de 10% desde o fim do ano passado. Custos estão sendo reavaliados em relação ao fornecedores nacionais, levando-se em conta o impacto da valorização do real.

O sinal verde para o corte de preços foi dado pela relativa estabilidade do dólar, que gira em torno de R$ 2,40 há quase um mês. "Isso nos deu mais confiança para rever custos e preços."

Para José Roberto Campos, vice-presidente da Samsung, o reflexo do recuo do dólar no preço do celular é imediato porque os contratos de fornecimento com as operadoras são em reais, mas têm a moeda americana como referência. O ciclo de produção do celular é menor do que o de equipamentos de áudio e vídeo e permite que alterações de custos apareçam rápido nos preços.

No caso dos celulares, as operadoras têm forte influência na marcação de preços de acordo com o plano de marketing promocional. A Claro, por exemplo, informa que os preços dos celulares dependem das promoções de datas comemorativas. O preço do aparelho, informa a operadora, recuou por causa do Dia das Mães e deve voltar a patamares normais.

A boa notícia é que o consumidor está desembolsando menos pelo mesmo produto, nem que seja só por um período limitado. Já para os aparelhos de áudio e vídeo, o reflexo do dólar no preço ao consumidor demora mais para aparecer, segundo Campos, da Samsung. Ele argumenta que, além de o ciclo de produção ser mais longo que o do celular, o deslocamento do produto das fábricas de Manaus para os consumidores do Centro-Sul retarda o impacto nos preços.

A competição acirrada também pressionou os preços para baixo. Um televisor de plasma de 42 polegadas fabricado pela companhia, que custava R$ 22,9 mil há 3 meses, hoje sai por R$ 14,9 mil - 35% menos.

PETRÓLEO

O ímpeto de aumentar preços diminuiu não apenas por causa do dólar e da concorrência.O arrefecimento no ritmo de alta da cotação do petróleo, por exemplo, reverteu o aumento de preço de 12% a 15% anunciado pelos fabricantes de resinas plásticas no fim do primeiro trimestre. As resinas têm forte presença em vários produtos, desde gabinetes de televisores a sacolas de supermercados e embalagens de refrigerantes.

De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Resinas Sintéticas no Estado de São Paulo (Siresp), José Ricardo Roriz Coelho, as indústrias desistiram do aumento porque o real se valorizou e o barril de petróleo, que tinha atingido US$ 57 no primeiro trimestre, caiu para US$ 47. "Esse movimento deverá dar alívio para inflação," diz Coelho, para quem os preços do petróleo e das resinas não terão grandes alterações nos próximos três meses.

"Os custos das empresas estão se reduzindo. Por isso, a propensão a repasses ao consumidor será menor, a médio prazo", diz o sócio da MSConsult Fábio Silveira. "Desde março, quando o dólar começou a se desvalorizar em relação ao real, diminuiu a intenção das empresas de aumentar preços." Com o arrefecimento da demanda por causa das sucessivas elevações do juro básico - hoje em 19,75% ao ano -, a iniciativa de aumentar preços perdeu os fundamentos.

Boa parte das indústrias trabalha com o dólar a R$ 2,70 na formação dos custos, acima do nível atual. Na opinião do economista-chefe da LCA Consultores, Luís Suzigan, não há tempo hábil para a redução de preços, uma vez que a perspectiva é de que o câmbio suba no segundo semestre. A alta do dólar nos próximos meses, acrescenta, deverá ser impulsionada pelo redirecionamento do capital internacional para o mercado americano, por causa da alta dos juros nos EUA. Ele aposta na redução nos saldos da balança comercial brasileira, diminuindo a oferta de dólares, o que deve se refletir na desvalorização do real.