Título: Safra de açúcar e álcool terá estimativa oficial
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2005, Economia, p. B6

A partir desta semana, o Brasil contará com um número oficial para a safra de cana-de-açúcar. Amanhã, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ampliará sua área de atuação e divulgará sua primeira estimativa para a safra atual, 2005/2006, de cana. As pesquisas de campo que permitirão indicar o tamanho da produção nacional foram feitas entre os dias 16 e 20 de maio, durante o período de colheita. A Conab tem tradição nas previsões para a produção de grãos e café. Desde 1977, a estatal faz estimativas para a safra de grãos. Os levantamentos para o café começaram a ser feitos há três anos. A idéia de estimar a produção de cana-de-açúcar partiu do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Ter informações sobre a safra é fundamental pois, em primeiro lugar, o Brasil tenta incrementar as exportações. O Japão, destino da última visita oficial do presidente Lula, na semana passada, é o grande objetivo do governo brasileiro em termos de comércio de álcool. A adição optativa de 3% de álcool à gasolina gera, só por parte do Japão, uma demanda de 1,8 bilhão de litros de álcool por ano. O governo japonês avalia a possibilidade de tornar a mistura obrigatória.

Na Coréia do Sul, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, respondeu a uma bateria de questões sobre o etanol, entre elas a previsão de safra. Os japoneses também estão muito cautelosos quanto a iniciar a importação do etanol, porque temem falhas no abastecimento. Uma previsão segura de safra ajudaria a diminuir as desconfianças.

No mercado interno, as perspectivas também são promissoras para o álcool, resultado da demanda crescente por carros bicombustíveis, que podem ser abastecidos por álcool e gasolina.

Além disso, a condenação dos subsídios concedidos pela União Européia ao açúcar também pode resultar em aumento das exportações brasileiras. "O governo precisa ter um número seu, oficial, e não basear-se só em estimativas da iniciativa privada", comentou o diretor de Logística da Conab, Sílvio Porto.

De acordo com a Conab, 72 técnicos envolvidos no trabalho pesquisaram a área plantada, produtividade e produção da cana-de-açúcar. Nos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e Alagoas, o levantamento de campo foi auxiliado pelo sistema Geosafras, de acompanhamento por satélite. Nos Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, o trabalho foi feito diretamente com os produtores.

Além do tamanho da safra de cana-de-açúcar, a Conab também vai informar o destino da matéria-prima: produção de álcool combustível, cachaça ou açúcar, dado importante para elaborar políticas públicas para o setor.

O curioso é que o governo americano já faz esse tipo de avaliação da produção brasileira. Um adido do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) calculou que a produção brasileira será de 407 milhões de toneladas na safra 2005/2006, novo recorde pela quarta safra consecutiva.

Para a Região Centro-Sul, o adido estima produção de 355 milhões de toneladas, 10 milhões a mais que a estimativa feita pela União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), que reúne os usineiros da região. Já as Regiões Norte e Nordeste devem reduzir a produção em 6%, para 52 milhões de toneladas, como resultado da prolongada seca iniciada no ano passado.